terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE III




ASSIM CAMINHAM OS ELEFANTES

Um fato curioso sobre os elefantes: para sobreviver, eles não podem cair. Todo animal pode tropeçar e se levantar novamente. Mas o elefante deve ficar de pé, até para dormir. Se um elefante da manada escorrega e cai, não poderá ser reerguido. Ele ficará no chão, refém de seu próprio peso. Embora os outros o observem consternados e tentem reerguê-lo, nada poderão fazer. Respirando devagar, o elefante caído acaba por falecer. Os outros ficam em torno dele por algum tempo, em vigília, depois, pouco a pouco, vão se afastando. Foi o que aprendi ao ler sobre a natureza, mas me pergunto se isso está certo. Haverá outra razão por que os elefantes não podem cair? Talvez tenham escolhido que seja assim. Não cair é a sua missão. Como o mais sábio e paciente dos animais, fizeram um pacto – imagino que há muitas e muitas eras, no final da Idade do Gelo. Movendo-se em grandes manadas sobre a Terra, os elefantes viram os homenzinhos escondidos na selva, com lanças de pedra lascada.

 “Que ódio e medo sentem essas criatura”, pensaram os elefantes. “Mas eles herdarão a Terra. Somos sábios o suficiente para perceber isso. Vamos dar-lhe o nosso exemplo.”

Então, os elefantes refletiram: que exemplo poderiam dar aos homens? Poderiam demonstrar seu poder, o que seria autêntico. Poderiam demonstrar raiva, arrasando florestas inteiras, ou poderiam dominar o homem pelo medo, destruindo suas cabanas e plantações.  
Quando se sentem frustrados, os elefantes se enfurecem e podem fazer tudo isso, mas, por viver em grupo, pensaram e entenderam que seria mais útil ao homem aprender de forma gentil.

- Vamos mostrar a eles nosso respeito pela vida - disseram.
E, a partir desse dia, os elefantes se tornaram silenciosos, pacientes e pacíficos. Aceitam ser montados e subjugados. Deixam que as crianças riam de seus truques no circo, longe das extensas planícies da África, onde reinavam como senhores.
Mas a lição mais importante dos elefantes está em se moverem, pois sabem que a vida é um constante movimento. A cada manhã, a cada era, as manadas caminham, grandes massas vivas que nunca tombam, uma força de paz incoercível.

Inocentes, nem desconfiam que mais tarde serão abatidos, aos milhares, com apenas um tiro. Cairão, mutilados, graças à nossa vergonhosa ganância. Os machos tombam primeiro, para terem seus dentes de marfim arrancados.

Depois, tombam as fêmeas, para levarem suas cabeças. Os filhotes correm e urram ao farejar o sangue das mães, mas não adianta fugirem das armas. Silenciosos, sem ninguém para olhar por eles, também morrerão, e seus ossos secarão ao sol.

Em meio a tanta morte, os elefantes poderiam simplesmente desistir. Bastaria cair no chão. Apenas isso. Eles não precisam de munição: a natureza lhes deu a dignidade de apenas se deitar e descansar em paz. Mas lembram da antiga promessa que nos fizeram, que permanece sagrada para eles.

Então, os elefantes continuam caminhando e, a cada passo, exclamam estas palavras aos quatro ventos:
- Observe, aprenda, ame. Observe, aprenda, ame...
Conseguem ouvi-los? Um dia, envergonhados, os fantasmas de dez senhores das planícies dirão:
- Nós não os odiamos. Não percebem? Aceitamos a queda, para que vocês, tão pequenos e amados, não caiam também.
 
O MENINO E A ALMOFADA 

Um pai muito sábio queria que seu filho mais jovem aprendesse uma lição
- Eis uma almofada de seda bordada, feita com as mais raras penas de ganso de toda a Terra – ele disse. – Vá à cidade e veja por quanto consegue vendê-la.
- Primeiro, o rapaz foi ao vilarejo, onde encontrou um rico mercador de plumas.
- Quanto me dás por esta almofada? - perguntou.

O mercador espremeu os olhos.
- Dou cinqüenta ducados de ouro por ela, pois vejo que tens um verdadeiro tesouro.
O rapaz agradeceu e continuou seu caminho. Em seguida, viu uma fazendeira descascando legumes à beira da estrada.
- Quanto me dás por esta almofada? - perguntou.
Ela a tocou e exclamou:
- Como é macia! Dou-te uma moeda de prata, pois adoraria deitar minha cabeça cansada numa almofada como esta!
- O rapaz agradeceu à mulher e seguiu em frente. Finalmente, viu uma jovem camponesa lavando as escadas de uma igreja.
- Quanto me dás por esta almofada? - perguntou.
Ela lhe lançou um olhar curioso, sorrio de soslaio, e respondeu:
- Te darei um centavo, pois vejo que tua almofada é dura comparada a estes degraus de pedras.
Sem hesitar, o rapaz colocou a almofada a seus pés. 

Ao chegar em casa, ele disse ao pai:
- Consegui o melhor preço pela tua almofada.
E mostrou-lhe o centavo.
- O quê? – exclamou o pai. – Essa almofada valia pelo menos cem ducados de ouro!
- Foi o que avaliou o rico mercador – respondeu o jovem, - mas sendo ganancioso, ofereceu-me cinqüenta. Mas consegui uma oferta melhor do que essa. A mulher de um fazendeiro me ofereceu uma moeda de prata por ela.
- Você enlouqueceu? – perguntou o pai. - Quando uma moeda de prata vale mais do que cinqüenta ducados de ouro?
- Quando é oferecido com amor – o rapaz respondeu. - Se tivesse me oferecido mais, não poderia alimentar seus filhos. Porém consegui uma oferta ainda melhor que esta. Encontrei uma camponesa lavando as escadas de uma igreja, que me ofereceu este centavo.
- Você enlouqueceu de vez! - disse o pai, meneando a cabeça. - Quando um centavo vale mais que uma moeda de prata?
- Quando é oferecido com devoção - o rapaz respondeu. – Pois ela estava servindo ao seu Deus e, para ela, os degraus da Sua casa eram mais macios do que qualquer almofada. Mesmo sendo a mais pobre de todas as criaturas, ainda encontra tempo para dedicar a Deus. E, por este motivo, dei-lhe a almofada.
Ao ouvir isso, o sábio pai sorriu, abraçou o filho e, com os olhos marejados, murmurou:
- Aprendeste bem a lição!
 
CHEGA POR HOJE

Os ensaios podem terminar depois da meia-noite, mas, desta vez, parei às dez.
- Espero que não se importem - eu disse, olhando para cima - mas chega por hoje.
Uma voz, de dentro da sala de controle, perguntou:
- Você está bem?
- Creio que estou um pouco cansado - respondi.

Passei pelas coxias e cheguei até o corredor. Ouvi passos apressados vindo atrás de mim. Eu sabia de quem eram.
- Conheço você - ela disse, ao se aproximar. – Qual é o problema?

Eu hesitei.
- Bem, não sei explicar, mas hoje vi uma foto no jornal. Um golfinho morreu preso numa rede de pesca. Da forma como o corpo estava emaranhado, percebi seu sofrimento. O olhar estava vago, embora se entrevisse o sorriso que os golfinhos sempre têm, até quando morrem...
Minha voz embargou.

Ela pousou a mão suavemente sobre a minha.
- Compreendo...
- Mas, isso não é tudo. Não é apenas o fato de eu estar me sentido triste pela morte de um inocente. Os golfinhos adoram dançar: de todas as criaturas do mar, esta é a sua característica. Sem pedir nada, dançam nas ondas, deixando-nos boquiabertos. Nadam à  frente dos navios, não para chegar antes, mas para nos dizer: “Nascemos para brincar. Mantenham a rota, mas dancem ao longo do caminho.”

Então, pensei, no meio do ensaio: “Estão matando a dança.” E me pareceu que eu deveria parar. Não posso evitar que a sua dança seja extinta, mas, pelo menos, como dançarino, posso parar em respeito a ele. Isso faz sentido para você?

Ela me olhou com carinho.
- Claro que sim. Provavelmente, ainda levará muito tempo até que se encontre uma solução para este problema. Há vários interesses em jogo. Mas é frustrante esperar que tudo só melhore no futuro. Seu coração quer uma resposta agora.

- Sim – respondi, abrindo a porta para ela. – Apenas tive esta sensação e, por isso, eu disse: chega por hoje. 
 
AS MARCAS DOS ANCESTRAIS
 
Ele sempre viveu no deserto, mas, para mim, tudo era novidade.
- Vê aquela pegada na areia? - ele perguntou, apontando para um lugar junto à escarpa.
Observei com atenção.
 - Não, não estou vendo nada.
- É justamente isso - ele riu. - Onde não vemos pegadas, por ali caminharam os nossos ancestrais.
Andamos mais um pouco, e ele apontou para uma senda no alto da montanha de arenito.
- Vê aquela casa lá em cima? – ele perguntou.
Contraí os olhos com força.
- Não vejo nada.
- Você aprende depressa – ele disse, sorrindo. - Onde não se vê telhados nem chaminés, é onde nossos ancestrais viveram.
Fizemos uma curva e surgiu uma paisagem deslumbrante de milhares e milhares de flores do deserto.
- Percebe se está faltando alguma? - ele perguntou.
- Balancei negativamente a cabeça.
- Apenas vejo uma onda de beleza.
- Sim - ele respondeu baixinho. - Onde não falta nada, nossos ancestrais colheram em abundância.
Pensei muito sobre tudo isso, como tantas gerações viveram em harmonia com a Terra, sem deixar marcas nos lugares onde viveram. No acampamento, aquela noite, eu disse:
- Você esqueceu uma coisa.
- O quê? - ele perguntou.
- Onde estão enterrados os nossos ancestrais?
Sem responder, ele mexeu na fogueira com um graveto. Uma labareda se levantou e desapareceu no ar. Meu mestre me perguntou com o olhar se eu entendera. Permaneci imóvel, e meu silêncio mostrou-lhe que eu havia compreendido a lição. 
 
CURE O MUNDO

Há um lugar no coração
Onde vive o amor
Que pode conter mais luz
Do que a manhã
E se, de fato, tentarmos
Descobriremos que não precisamos chorar
Não há dor nem tristeza neste lugar

É fácil chegar lá
Se a vida é importante pra você
Dê uma chance
Crie um lugar melhor
Cure o mundo
Torne-o um lugar melhor
Pra mim, pra você
E toda a humanidade

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você

Se quiser saber por quê
Há um amor verdadeiro
É forte, sua única alegria é se dar
Se tentarmos, veremos
Que nessa felicidade não há
Medo nem temor
Deixamos de existir e começamos a viver
Então parece que basta apenas
O amor para fazer-nos crescer
Torne o mundo um lugar melhor
Torne o mundo um lugar melhor

Cure o mundo
Torne-o um lugar melhor
Pra mim, pra você
E toda a humanidade

As pessoas estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você

E o sonho em que fomos concebidos
Revelará a sua alegria
E o mundo em que um dia acreditamos
Brilhará novamente com toda a sua graça

Então por que continuar a matar a vida
Ferir a Terra, crucificar sua alma
Embora seja claro
Este mundo é celeste
Podemos ser a graça de Deus
Podemos voar tão alto
E nosso espírito nunca morreria

Em meu coração sinto que todos são irmãos
Criem um mundo sem medo
Juntos, choraremos felizes
E os povos transformarão espadas em ancinhos
Podemos conseguir tudo isso
Se nos importamos com a vida
Deem uma chance
De criar um lugar melhor
Cure o mundo
Torne-o um lugar melhor
Pra mim, pra você
E toda a humanidade

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você
Cure o mundo
Torne-o um lugar melhor
Pra mim, pra você
E toda a humanidade

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você

Cure o mundo
Torne-o um lugar melhor
Pra mim, pra você
E toda a humanidade

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você

Há pessoas que estão morrendo
Se a vida é importante pra você
Torne-o um lugar melhor
Pra mim e pra você
Pra mim e pra você
Pra mim e pra você
Pra mim e pra você
Pra mim e pra você
Pra você e pra mim
Pra você e pra mim


CRIANÇAS

As crianças me mostram, com seu sorriso maroto, o ser divino que habita em nós. Essa bondade vem direto do coração. Isso nos ensina muito.

Se uma criança quer um sorvete de chocolate, ela apenas o pede. Os adultos complicam tudo sem precisar, sem saber se devem tomar o sorvete ou não. Uma criança o desfruta.

O que precisamos aprender com as crianças não é algo infantil. Estar com elas nos conecta com a imensa sabedoria vital, e nos pede apenas que a vivamos. Neste momento, quando o mundo está confuso, passando por problemas tão complicados, sinto que precisamos das crianças mais do que nunca.

Sua sabedoria natural aponta o caminho para soluções que só podemos encontrar no coração.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE II



CRIANÇA MÁGICA

Era uma vez uma criança livre
Dentro dela, havia o riso
O júbilo e a alegria da natureza
Sem se preocupar com o futuro
Beleza, amor, era tudo que ela via.
Ela só via a beleza e o amor.

Sabia que tinha o poder de Deus
Tinha tanta certeza, parecia estranha,
Sua inocência, compaixão e luz
Ameaçavam os sacerdotes, assustando-os.
De inúmeras formas, buscaram desfazer
Essa misteriosa força, por desconhecê-la.

De diversos modos, tentaram destruir
Sua confiança, sua infinita alegria.
A felicidade era sua invencível armadura
Nada conseguia tocá-la, nem o veneno, nem o vento.

A criança continuou vivendo em estado de graça
Sem se prender a tempo ou lugar.
Em sonhos multicoloridos, saltava e brincava.
Ao representar, continuava a viver no Eterno.

Vieram os adivinhos e tiraram a sorte
Alguns eram veementes, outros, ousados
Ao denunciar esta criança, esta surpreendente criatura
Ela era estranha para este mundo
Ela é real? Ela é tão diferente
Sua imprevisível natureza é ilimitada
Ela é tão intrigante, seria hétero?
Qual seu destino? Qual seu futuro?

E, enquanto sussurravam e conspiravam,
Cochichando o tempo todo só para cansá-la
Para sabotar sua curiosidade, para atrapalhá-la
Minar sua coragem, aumentar seu medo
Continuou a ser simples e sincera.

Ela só queria chegar ao topo da montanha
Colorir nuvens, pintar o céu
Superar esses limites, queria voar
Seguir com a natureza e nunca morrer

Não impeçam esta criança, dela surge a humanidade
Não turbem seu caminho, ela faz parte do plano
Eu sou esta criança, e você também é
Apenas se esqueceu, perdeu o fio da meada

Dentro do seu coração, há um profeta
Entre seus pensamentos, ela pode ouvir
Uma simples melodia, mas muito clara
A música da vida, tão preciosa, tão cara

Se pudesse, por um momento, conhecer
Essa centelha da criação, esse brilho especial
Viria dançar comigo
Acenderíamos esta fogueira e veríamos
Todas as crianças da Terra
Tecendo sua mágica e dão a luz
A um mundo de liberdade sem dor
Um mundo de alegria, muito mais sadio

Descubra lá no fundo – sabe que é verdade -
A criança que vive dentro de você.



SUAS ASAS CRESCERAM SEM MIM

Era agosto, e eu estava contemplando o céu. Pus a mão acima dos olhos, e imaginei um falcão subindo a corrente de ar quente. Num vôo em espiral, cada vez mais alto, soltou um grito agudo, e desapareceu.
De repente, senti-me só.
- Por que eu não tenho asa? – lamentei.
Então, meu espírito disse:
- O caminho do falcão não é o único. Seus pensamentos são tão livres quanto os de qualquer ave.
Assim, cerrei os olhos e meu espírito decolou, voando em círculos, tão alto quanto o falcão e, depois, voou além, em volta da Terra. Mas algo estava errado. Por que me senti com frio e sozinho?
- Suas asas cresceram sem mim – disse meu coração. – De que vale ser livre sem amor?
Fui, em silêncio, até a cabeceira de uma criança doente, e cantarolei uma cantiga de ninar. Ela adormeceu sorrindo, e meu coração se elevou, juntando-se ao meu espírito que sobrevoava a Terra. Senti-me livre e pleno de amor, mas algo continuava errado.
- Suas asas cresceram sem mim – disse meu corpo. - Seus vôos são apenas imaginação. Depois, li livros que não conhecia sobre santos, que, de fato, voaram. Na Índia, Pérsia, China e Espanha (até mesmo em Los Angeles!), o poder do Espírito tocou, não apenas o coração, mas todas as células do corpo.
- Como carregada por uma grande águia – disse Santa Teresa - meu êxtase me suspendeu no ar.
Comecei a acreditar nessa incrível façanha e, pela primeira vez, não me senti mais só. Eu era o falcão, a criança e o santo. Para mim, sua vida se tornou sagradas, e a verdade se revelou: quando encaramos a existência de modo divino, todos ganham asas.



A DANÇA DA VIDA

Não consigo escapar da lua. Seus raios suaves atravessam a cortina à noite. Nem preciso vê-la – uma força fria e azulada toca minha cama e faz que me levante. Deslizo pelo corredor escuro e abro a porta, não para sair de casa, mas para retornar a ela.
- Lua, estou aqui! - exclamo.
- Muito bom! – ela responde. - Agora dance um pouco para nós.
Mas meu corpo começa a dançar muito antes de ela pedir. Quando isso começou? Não me lembro – meu corpo sempre esteve se movimentou. Desde criança, reagi desta maneira diante da lua, como fã alucinado, não simplesmente ligado a ela. As estrelas me atraem ao ponto de eu ver através de sua luz. Elas também dançam, movendo, ternas, suas moléculas, fazendo os seus átomos de carbono saltar ao mesmo tempo.
De braços abertos, sigo até o mar, que faz com que aflore outra dança em mim. A dança da lua é lenta e suave, como o luar ondulando sobre a relva. Quando as ondas quebram,  ouço o coração da Terra, e o ritmo se acelera. Sinto os golfinhos pulando sobre a espuma, como se tentassem alçar vôo, e quase planam quando as ondas despencam do alto. As caudas desenham arcos de luz, fazendo o plâncton brilhar na vaga. Um cardume se eleva, luzindo os dorsos prateados sob a lua, como uma constelação.
 - Ah! – diz o mar. - Agora estão chegando!
Corro pela praia, molhando os pés ou fugindo das ondas. Ouço sons abafados – centenas de caranguejos assustados se escondem nos orifícios. Mas continuo correndo na ponta dos pés ou saltando a passos largos. Jogo a cabeça para trás e uma nuvem diz: - - Gire rápido!
Sorrio, baixo a cabeça procurando equilíbrio, começo a girar o mais rápido que posso. Esta é a minha dança favorita, pois ela tem um segredo. Quanto mais rápido giro, mais entro dentro de mim. Minha dança é a ausência de movimento, imersa em silêncio. Por mais que ame compor, a música inaudível nunca morre. E o silêncio é a minha verdadeira dança, embora não se mova. Ela fica de lado, um coreógrafo da graça, abençoando-me por inteiro.
Agora esqueci a lua, o mar e os golfinhos, mas desfruto de sua alegria mais do que nunca. Distante como uma estrela, próxima como um grão de areia, a presença se eleva vestida de luz. Poderia ficar dentro de mim para sempre, de tão amoroso e cálido que é. Mas ao tocá-la, a luz avança. Ela estremece e me emociona, e eu sei que meu destino é mostrar a todos que este silêncio, esta luz, esta benção são a minha dança. Recebo este  presente apenas para dá-lo de volta.
- Dê, rápido! diz a luz.
Igual à primeira vez, tento obedecer, inventando novos passos, novos gestos, que expressem alegria. De repente, vejo onde estou, correndo até o cume da montanha. A luz do quarto está acesa. Ao vê-la, desço de novo. Sinto meu coração pulsar, formigarem meus braços, o sangue correr cálido pelas minhas pernas. Minhas células querem dançar mais devagar.
- Podemos andar um pouco? - elas perguntam. – Tudo está muito agitado.
- Claro... – respondo, rindo, reduzindo o ritmo.
Giro a maçaneta, respiro fundo, sinto-me cansado, mas feliz. Ao me deitar, lembro de algo novamente. Dizem que algumas estrelas deixaram de existir. Sua luz leva milhões de anos até chegar a nós, e vemos um brilho antigo, de um momento em que ainda existiam.
- Então, o que acontece a uma estrela, depois que ela para de brilhar? – me pergunto. – Talvez, ela morra.
- Ah, não – diz uma voz na minha cabeça. - Uma estrela nunca morre. Ela apenas se transforma num espasmo, e se dissolve na música cósmica, na dança da vida.
Gosto de pensar nisso antes de fechar os olhos. Eu sorrio e me dissolvo na música.


QUANDO OS BEBÊS SORRIEM

Quando os idealistas sonham e beijam seus amados
E os arco-íris se lançam e derramam suas cores
São momentos tão intensos
Em que mergulhamos e caímos no abismo
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Nesses momentos, o destino se revela
Nada é impossível e nos curamos
Voamos bem alto
Caminhamos sobre o fogo, cruzamos os céus
Na luz de uma estrela
A distância não existe, ninguém está longe
São momentos inocentes
Dentro da luz
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Nesses momentos, o coração se acalma
As praias fulgem seu magnífico esplendor
Ouve-se o riso dos Céus na Terra
E renascemos para uma nova vida
Numa Eternidade sem-fim
Na fraternidade dos anjos
Brincamos e rolamos
No Jardim de nossa alma
No lusco-fusco
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Os impérios caem, são derrubados
As civilizações ruem, os séculos passam
Turbulentas tempestades turbam os mares
Há mortes terríveis, apesar dos lamentos
Mas o orvalho reluz quando as crianças brincam
Os tiranos choram, pois não podem matar
As fadas dançam, e os elfos cantam
Todos são coroados, todos são reis
No Jardim
Passeamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

 
MAS O CORAÇÃO DISSE NÃO

Quando viram os pobres vivendo em casas de papelão, decidiram derrubar a favela e construir prédios, imensos edifícios de cimento e vidro em quarteirões de asfalto. Mesmo assim, aquele não era um lar, nem parecia com suas casas na favela.
- O que esperavam? – perguntaram impacientes. – Vocês são pobre demais para viver como nós. Até melhorarem de vida, deveriam se sentir gratos, não acham?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

A cidade precisava de mais eletricidade, então procuraram um rio no meio das montanhas e construíram uma represa. Quando o nível das águas se elevou, apareceram corpos de coelhos e corças boiando; pássaros novos demais para voar se afogaram ainda em seus ninhos, enquanto suas mães choravam, impotentes.
- Isso não é bonito de se ver - disseram, - mas agora um milhão de habitantes poderá ligar o ar-condicionado durante todo o verão. É mais importante do que um rio na montanha, não é?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

Eles assistiram à opressão e ao terrorismo em um país distante, então declararam guerra. As bombas reduziram o país a escombros. A população se encolheu de medo e, todos os dias, mais moradores dos vilarejos eram enterrados em rústicos caixões.
- Temos de aceitar o sacrifício - disseram. - Se alguns inocentes são feridos, não é o preço que pagamos pela paz?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

Os anos passaram e eles envelheceram. No conforto de suas casas, tornaram-se ricos.
- Tivemos uma vida excelente – disseram, - e fizemos o que deveríamos ter feito.
 Os filhos olharam para eles e perguntaram por que a guerra, a poluição e a pobreza nunca acabavam.
- Logo saberão por quê - responderam. - Os homens são fracos e egoístas. Apesar do nosso esforço, sempre existirão esses problemas.
A cabeça disse sim, mas os filhos ouviram seus corações e sussurraram:
- Não!

CRIANÇAS DO MUNDO
 
Crianças do mundo, iremos a praias longínquas
Construiremos castelos na areia e navegaremos
Enquanto todos defendem suas idéias
Escondendo-se por trás de máscaras
Vamos virar a maré e chegar lá.

Crianças do mundo, chegaremos lá
Com música, dança inocência
E a ternura de um beijo
Chegaremos lá.

Enquanto os comerciantes vendem e pechincham  
E políticos tentam tanto nos agradar
Iremos a praias longínquas e em nossos barcos
Chegaremos lá.

Enquanto advogados discutem e médicos curam
Vendedores remarcam o preço da carne
Enquanto pastores pregam e tocam suas sinetas
Camelôs vendem suas mercadorias
Cantaremos e dançaremos inocentes
Com a ternura de um beijo
Iremos a praias longínquas
Construiremos castelos de areia, navegaremos
E chegaremos lá.

Seguiremos o arco-íris, nas nuvens, na tempestade
Andaremos no vento, mudaremos de forma
Tocaremos as estrelas, abraçaremos a lua
Quebraremos as barreiras e logo estaremos lá
Enquanto arquitetos projetam arranha-céus
E sindicalistas reivindicam
Enquanto discutem na diretoria
E negociantes se encontram em sigilo
Vamos cantar e dançar inocentes
Com a ternura de um beijo
E chegaremos lá.

Enquanto filósofos debatem e continuam atacando
Infindáveis dilemas sobre o corpo e a mente
Físicos divagam e continuam a escrutinar
Eternas questões sobre tempo e espaço
Arqueólogos pesquisam e desencavam
Tanto grandes quanto pequenos e antigos tesouros
Psicólogos perscrutam, analisam as lágrimas
De histerias, fobias e medo.

Enquanto padres ouvem confissões
Nas missas
E as pessoas lutam
Na lufa-lufa
Em meio ao barulho e à confusão
Sobre o pecado
Tocaremos as estrelas, abraçaremos a lua
Romperemos as barreiras, logo chegaremos lá
Seguiremos o arco-íris, nas nuvens, na tempestade
Andaremos no vento, mudaremos de forma.

Crianças do mundo, chegaremos lá.
Com música, dança, inocência
E a ternura de um beijo
Chegaremos lá.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE I


A Dança dos Sonhos (em inglês Dancing the Dream) é um livro de poemas e reflexões de Michael Jackson, lançando a primeira vez em 1993.
 
Quando li este livro me encantei com palavras tão meigas e ao mesmo tempo fortes de Michael. Poemas e reflexões que mexem com a gente. Espelhei-me neste livro para fazer criar este blog, daí que vem o nome “A dança dos sonhos”. Neste livro você vai encontrar lindos poemas que falam da beleza da vida, e que vale apena ainda acreditar nos seres humanos. Mas que todos nós que queremos o mundo melhor, temos que fazer a nossa parte, como Michael fazia a dele. Michael mostra como era um ser humano humilde, sábio e bondoso. Apenas quem olha para o coração, e não para a aparência de Michael sabe como ele é. Michael muito obrigado por existir e nós mostrar como a vida é bela. Você é o meu espelho, um exemplo a ser seguido. Nós amamos você.

 
APRESENTAÇÃO, ELIZABETH TAYLOR

Quando ouço dizerem o nome Michael Jackson, penso em brilho, movimentos rápidos, lasers e emoções fortes. Eu adoro Michael Jackson. Acredito que ele seja um dos maiores e melhores astros do mundo e, coincidentemente, um dos compositores mais talentosos de todos os tempos.

O que faz Michael ser único resulta de todas as suas conquistas e prêmios não terem modificado a sua sensibilidade e a preocupação com o bem-estar dos outros, nem a intensa dedicação e amor por sua família e amigos e, pelas crianças do mundo.

Creio que Michael sempre esteja querendo aprender. Sua inteligência é tão grande que supera as expectativas. Ele é também muito curioso e gosta de aprender com aqueles que sobreviveram. Com os que permaneceram. Ele não pertence a este planeta. Suas emoções profundas fazem com que surja este homem especial, inocente, infantil, sábio e atemporal que é Michael Jackson. Acredito que Michael faça aflorar a criança que existe em cada um de nós, e tenha a inocência que todos gostariam de ter tido ou mantido ao longo da vida.

Sua mente é aguçada, perspicaz e astuta – uma palavra estranha para se referir a ele, pois se subentende um desvio de conduta, e ele, ao contrário, é uma das pessoas mais honestas que conheci. Ele é a honestidade encarnada – é totalmente honesto – e vulnerável ao ponto da dor. Ele se entrega de tal forma que, às vezes, esquece de proteger seu belo coração, que mostra a sua essência. É exatamente isso que tanto amo nele, e que faz com que todos se vejam nele.

Michael Jackson é, de fato, um artista internacional, preferido de todas as idades, uma força incrível, uma energia avassaladora. Na música, é uma referência por sua qualidade de produção, o que o coloca na vanguarda, ao estabelecer altos padrões da arte do entretenimento. Como é ser um gênio? Como ser uma lenda viva? Como ser um mega astro? Michael Jackson é tudo isso. E quando pensamos que já o conhecemos, ele nos surpreende...

Ele é uma das melhores pessoas deste planeta e, pelo que sei, é o verdadeiro Rei do Pop, Rock e Soul.


A DANÇA DOS SONHOS

A consciência se expressa através de criação. Este mundo é a dança do Criador. Os dançarinos vêm e vão num piscar de olhos, mas a dança continua. Várias vezes, quando estou dançando, sinto-me tocado pelo sagrado. Nestes momentos, sinto meu espírito voar alto e se unir a tudo o que existe. Torno-me a lua e as estrelas. Torno-me o amado e o amante. Torno-me o vencido e o vencedor. Torno-me o escravo e o senhor. Torno-me a canção e o cantor. Torno-me o sábio e o saber. Continuo dançando e, então, descubro a eterna dança da criação. O Criador e a criação se fundem numa só alegria.
Continuo dançando, dançando, dançando... até restar apenas… a dança.


PLANETA TERRA


Planeta Terra, meu lar, meu lugar,

Um estranho capricho em meio ao espaço.
Planeta Terra, apenas
Flutuas como uma névoa,
Um pequeno globo prestes a explodir, 
Um pouco de metal meio enferrujado,
Uma minúscula matéria no vácuo sem fim,
Uma nave solitária, um imenso asteróide?

Fria pedra sem cor,
Grudada com um pouco de cola.
Algo me diz que não és assim.
És minha bem-amada, terna e azul.
Te importas, estás presente
Nas grandes emoções do meu coração.
Suave com a brisa, meiga e una, 
Cheia de música, assombrando minha alma?

Em minhas veias, senti o mistério
Dos corredores do tempo, dos livros de história,
Das canções da vida, do tempo que pulsa em meu sangue,
Dançando ao ritmo das vagas e marés.

Suas nuvens difusas, suas tempestades elétricas

Eram turbulências tomando a minha forma.

Lambi o sal, o acre, a doçura

De cada encontro, da paixão, do calor.
Suas cores confusa, seu cheiro, seu gosto 
Arrepiam meus sentidos infinitos.
Em sua beleza, conheci a felicidade atemporal,
O momento, o agora.

Planeta Terra, apenas
Flutuas como uma névoa,
Um pequeno globo prestes a explodir, 
Um pouco de metal meio enferrujado,
Uma minúscula matéria no vácuo sem fim,
Uma nave solitária, um imenso asteróide?

Fria pedra sem cor,
Grudada com um pouco de cola.
Algo me diz que não és assim.
És minha bem-amada, terna e azul.
Te importas, estás presente
Nas grandes emoções do meu coração.
Suave com a brisa, meiga e una, 
Cheia de música, assombrando minha alma?

Planeta Terra, azul e gentil,
Teu é o meu amor, do fundo do meu coração.