domingo, 26 de fevereiro de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE II



CRIANÇA MÁGICA

Era uma vez uma criança livre
Dentro dela, havia o riso
O júbilo e a alegria da natureza
Sem se preocupar com o futuro
Beleza, amor, era tudo que ela via.
Ela só via a beleza e o amor.

Sabia que tinha o poder de Deus
Tinha tanta certeza, parecia estranha,
Sua inocência, compaixão e luz
Ameaçavam os sacerdotes, assustando-os.
De inúmeras formas, buscaram desfazer
Essa misteriosa força, por desconhecê-la.

De diversos modos, tentaram destruir
Sua confiança, sua infinita alegria.
A felicidade era sua invencível armadura
Nada conseguia tocá-la, nem o veneno, nem o vento.

A criança continuou vivendo em estado de graça
Sem se prender a tempo ou lugar.
Em sonhos multicoloridos, saltava e brincava.
Ao representar, continuava a viver no Eterno.

Vieram os adivinhos e tiraram a sorte
Alguns eram veementes, outros, ousados
Ao denunciar esta criança, esta surpreendente criatura
Ela era estranha para este mundo
Ela é real? Ela é tão diferente
Sua imprevisível natureza é ilimitada
Ela é tão intrigante, seria hétero?
Qual seu destino? Qual seu futuro?

E, enquanto sussurravam e conspiravam,
Cochichando o tempo todo só para cansá-la
Para sabotar sua curiosidade, para atrapalhá-la
Minar sua coragem, aumentar seu medo
Continuou a ser simples e sincera.

Ela só queria chegar ao topo da montanha
Colorir nuvens, pintar o céu
Superar esses limites, queria voar
Seguir com a natureza e nunca morrer

Não impeçam esta criança, dela surge a humanidade
Não turbem seu caminho, ela faz parte do plano
Eu sou esta criança, e você também é
Apenas se esqueceu, perdeu o fio da meada

Dentro do seu coração, há um profeta
Entre seus pensamentos, ela pode ouvir
Uma simples melodia, mas muito clara
A música da vida, tão preciosa, tão cara

Se pudesse, por um momento, conhecer
Essa centelha da criação, esse brilho especial
Viria dançar comigo
Acenderíamos esta fogueira e veríamos
Todas as crianças da Terra
Tecendo sua mágica e dão a luz
A um mundo de liberdade sem dor
Um mundo de alegria, muito mais sadio

Descubra lá no fundo – sabe que é verdade -
A criança que vive dentro de você.



SUAS ASAS CRESCERAM SEM MIM

Era agosto, e eu estava contemplando o céu. Pus a mão acima dos olhos, e imaginei um falcão subindo a corrente de ar quente. Num vôo em espiral, cada vez mais alto, soltou um grito agudo, e desapareceu.
De repente, senti-me só.
- Por que eu não tenho asa? – lamentei.
Então, meu espírito disse:
- O caminho do falcão não é o único. Seus pensamentos são tão livres quanto os de qualquer ave.
Assim, cerrei os olhos e meu espírito decolou, voando em círculos, tão alto quanto o falcão e, depois, voou além, em volta da Terra. Mas algo estava errado. Por que me senti com frio e sozinho?
- Suas asas cresceram sem mim – disse meu coração. – De que vale ser livre sem amor?
Fui, em silêncio, até a cabeceira de uma criança doente, e cantarolei uma cantiga de ninar. Ela adormeceu sorrindo, e meu coração se elevou, juntando-se ao meu espírito que sobrevoava a Terra. Senti-me livre e pleno de amor, mas algo continuava errado.
- Suas asas cresceram sem mim – disse meu corpo. - Seus vôos são apenas imaginação. Depois, li livros que não conhecia sobre santos, que, de fato, voaram. Na Índia, Pérsia, China e Espanha (até mesmo em Los Angeles!), o poder do Espírito tocou, não apenas o coração, mas todas as células do corpo.
- Como carregada por uma grande águia – disse Santa Teresa - meu êxtase me suspendeu no ar.
Comecei a acreditar nessa incrível façanha e, pela primeira vez, não me senti mais só. Eu era o falcão, a criança e o santo. Para mim, sua vida se tornou sagradas, e a verdade se revelou: quando encaramos a existência de modo divino, todos ganham asas.



A DANÇA DA VIDA

Não consigo escapar da lua. Seus raios suaves atravessam a cortina à noite. Nem preciso vê-la – uma força fria e azulada toca minha cama e faz que me levante. Deslizo pelo corredor escuro e abro a porta, não para sair de casa, mas para retornar a ela.
- Lua, estou aqui! - exclamo.
- Muito bom! – ela responde. - Agora dance um pouco para nós.
Mas meu corpo começa a dançar muito antes de ela pedir. Quando isso começou? Não me lembro – meu corpo sempre esteve se movimentou. Desde criança, reagi desta maneira diante da lua, como fã alucinado, não simplesmente ligado a ela. As estrelas me atraem ao ponto de eu ver através de sua luz. Elas também dançam, movendo, ternas, suas moléculas, fazendo os seus átomos de carbono saltar ao mesmo tempo.
De braços abertos, sigo até o mar, que faz com que aflore outra dança em mim. A dança da lua é lenta e suave, como o luar ondulando sobre a relva. Quando as ondas quebram,  ouço o coração da Terra, e o ritmo se acelera. Sinto os golfinhos pulando sobre a espuma, como se tentassem alçar vôo, e quase planam quando as ondas despencam do alto. As caudas desenham arcos de luz, fazendo o plâncton brilhar na vaga. Um cardume se eleva, luzindo os dorsos prateados sob a lua, como uma constelação.
 - Ah! – diz o mar. - Agora estão chegando!
Corro pela praia, molhando os pés ou fugindo das ondas. Ouço sons abafados – centenas de caranguejos assustados se escondem nos orifícios. Mas continuo correndo na ponta dos pés ou saltando a passos largos. Jogo a cabeça para trás e uma nuvem diz: - - Gire rápido!
Sorrio, baixo a cabeça procurando equilíbrio, começo a girar o mais rápido que posso. Esta é a minha dança favorita, pois ela tem um segredo. Quanto mais rápido giro, mais entro dentro de mim. Minha dança é a ausência de movimento, imersa em silêncio. Por mais que ame compor, a música inaudível nunca morre. E o silêncio é a minha verdadeira dança, embora não se mova. Ela fica de lado, um coreógrafo da graça, abençoando-me por inteiro.
Agora esqueci a lua, o mar e os golfinhos, mas desfruto de sua alegria mais do que nunca. Distante como uma estrela, próxima como um grão de areia, a presença se eleva vestida de luz. Poderia ficar dentro de mim para sempre, de tão amoroso e cálido que é. Mas ao tocá-la, a luz avança. Ela estremece e me emociona, e eu sei que meu destino é mostrar a todos que este silêncio, esta luz, esta benção são a minha dança. Recebo este  presente apenas para dá-lo de volta.
- Dê, rápido! diz a luz.
Igual à primeira vez, tento obedecer, inventando novos passos, novos gestos, que expressem alegria. De repente, vejo onde estou, correndo até o cume da montanha. A luz do quarto está acesa. Ao vê-la, desço de novo. Sinto meu coração pulsar, formigarem meus braços, o sangue correr cálido pelas minhas pernas. Minhas células querem dançar mais devagar.
- Podemos andar um pouco? - elas perguntam. – Tudo está muito agitado.
- Claro... – respondo, rindo, reduzindo o ritmo.
Giro a maçaneta, respiro fundo, sinto-me cansado, mas feliz. Ao me deitar, lembro de algo novamente. Dizem que algumas estrelas deixaram de existir. Sua luz leva milhões de anos até chegar a nós, e vemos um brilho antigo, de um momento em que ainda existiam.
- Então, o que acontece a uma estrela, depois que ela para de brilhar? – me pergunto. – Talvez, ela morra.
- Ah, não – diz uma voz na minha cabeça. - Uma estrela nunca morre. Ela apenas se transforma num espasmo, e se dissolve na música cósmica, na dança da vida.
Gosto de pensar nisso antes de fechar os olhos. Eu sorrio e me dissolvo na música.


QUANDO OS BEBÊS SORRIEM

Quando os idealistas sonham e beijam seus amados
E os arco-íris se lançam e derramam suas cores
São momentos tão intensos
Em que mergulhamos e caímos no abismo
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Nesses momentos, o destino se revela
Nada é impossível e nos curamos
Voamos bem alto
Caminhamos sobre o fogo, cruzamos os céus
Na luz de uma estrela
A distância não existe, ninguém está longe
São momentos inocentes
Dentro da luz
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Nesses momentos, o coração se acalma
As praias fulgem seu magnífico esplendor
Ouve-se o riso dos Céus na Terra
E renascemos para uma nova vida
Numa Eternidade sem-fim
Na fraternidade dos anjos
Brincamos e rolamos
No Jardim de nossa alma
No lusco-fusco
E flutuamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

Os impérios caem, são derrubados
As civilizações ruem, os séculos passam
Turbulentas tempestades turbam os mares
Há mortes terríveis, apesar dos lamentos
Mas o orvalho reluz quando as crianças brincam
Os tiranos choram, pois não podem matar
As fadas dançam, e os elfos cantam
Todos são coroados, todos são reis
No Jardim
Passeamos um pouco
Nesses momentos, os bebês sorriem.

 
MAS O CORAÇÃO DISSE NÃO

Quando viram os pobres vivendo em casas de papelão, decidiram derrubar a favela e construir prédios, imensos edifícios de cimento e vidro em quarteirões de asfalto. Mesmo assim, aquele não era um lar, nem parecia com suas casas na favela.
- O que esperavam? – perguntaram impacientes. – Vocês são pobre demais para viver como nós. Até melhorarem de vida, deveriam se sentir gratos, não acham?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

A cidade precisava de mais eletricidade, então procuraram um rio no meio das montanhas e construíram uma represa. Quando o nível das águas se elevou, apareceram corpos de coelhos e corças boiando; pássaros novos demais para voar se afogaram ainda em seus ninhos, enquanto suas mães choravam, impotentes.
- Isso não é bonito de se ver - disseram, - mas agora um milhão de habitantes poderá ligar o ar-condicionado durante todo o verão. É mais importante do que um rio na montanha, não é?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

Eles assistiram à opressão e ao terrorismo em um país distante, então declararam guerra. As bombas reduziram o país a escombros. A população se encolheu de medo e, todos os dias, mais moradores dos vilarejos eram enterrados em rústicos caixões.
- Temos de aceitar o sacrifício - disseram. - Se alguns inocentes são feridos, não é o preço que pagamos pela paz?
A cabeça disse sim, mas o coração disse não.

Os anos passaram e eles envelheceram. No conforto de suas casas, tornaram-se ricos.
- Tivemos uma vida excelente – disseram, - e fizemos o que deveríamos ter feito.
 Os filhos olharam para eles e perguntaram por que a guerra, a poluição e a pobreza nunca acabavam.
- Logo saberão por quê - responderam. - Os homens são fracos e egoístas. Apesar do nosso esforço, sempre existirão esses problemas.
A cabeça disse sim, mas os filhos ouviram seus corações e sussurraram:
- Não!

CRIANÇAS DO MUNDO
 
Crianças do mundo, iremos a praias longínquas
Construiremos castelos na areia e navegaremos
Enquanto todos defendem suas idéias
Escondendo-se por trás de máscaras
Vamos virar a maré e chegar lá.

Crianças do mundo, chegaremos lá
Com música, dança inocência
E a ternura de um beijo
Chegaremos lá.

Enquanto os comerciantes vendem e pechincham  
E políticos tentam tanto nos agradar
Iremos a praias longínquas e em nossos barcos
Chegaremos lá.

Enquanto advogados discutem e médicos curam
Vendedores remarcam o preço da carne
Enquanto pastores pregam e tocam suas sinetas
Camelôs vendem suas mercadorias
Cantaremos e dançaremos inocentes
Com a ternura de um beijo
Iremos a praias longínquas
Construiremos castelos de areia, navegaremos
E chegaremos lá.

Seguiremos o arco-íris, nas nuvens, na tempestade
Andaremos no vento, mudaremos de forma
Tocaremos as estrelas, abraçaremos a lua
Quebraremos as barreiras e logo estaremos lá
Enquanto arquitetos projetam arranha-céus
E sindicalistas reivindicam
Enquanto discutem na diretoria
E negociantes se encontram em sigilo
Vamos cantar e dançar inocentes
Com a ternura de um beijo
E chegaremos lá.

Enquanto filósofos debatem e continuam atacando
Infindáveis dilemas sobre o corpo e a mente
Físicos divagam e continuam a escrutinar
Eternas questões sobre tempo e espaço
Arqueólogos pesquisam e desencavam
Tanto grandes quanto pequenos e antigos tesouros
Psicólogos perscrutam, analisam as lágrimas
De histerias, fobias e medo.

Enquanto padres ouvem confissões
Nas missas
E as pessoas lutam
Na lufa-lufa
Em meio ao barulho e à confusão
Sobre o pecado
Tocaremos as estrelas, abraçaremos a lua
Romperemos as barreiras, logo chegaremos lá
Seguiremos o arco-íris, nas nuvens, na tempestade
Andaremos no vento, mudaremos de forma.

Crianças do mundo, chegaremos lá.
Com música, dança, inocência
E a ternura de um beijo
Chegaremos lá.

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