quinta-feira, 1 de março de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE V




AMOR

É difícil descrever o amor. É tão fácil de sentir, porém, é complexo falar dele. É como segurar um sabonete na banheira – não podemos apertá-lo.
Muitos passam a vida procurando o amor do lado de fora. Pensam que devem agarrá-lo para poder tê-lo. Mas o amor escorrega dos dedos, como o sabonete na banheira.
Não é errado querer o amor, mas é devemos segurá-lo suavemente, com carinho. Deixe-o voar quando quiser. Quando o amor é livre, ele nos dá vida, júbilo e alegria. É como a essência e a energia que motivam minha música, minha dança, e tudo o que faço. Enquanto o amor estiver em meu coração, ele estará por toda a parte.


DEUS 

É estranho que Deus não Se importe em Se expressar através de todas as religiões do mundo, enquanto todos se agarram à noção de que a sua religião seja o único e verdadeiro caminho. O que falamos sobre Deus acaba por ofender alguém, mesmo que digamos que o amor que expressam por Deus seja correto para eles.
Para mim, a forma que Deus assume não é o mais importante. O que importa é a Sua essência. Minhas canções e minha dança são contornos para que Ele as preencha. Eu crio a forma, Ele me dá a doçura. Olhei o céu à noite e vi as estrelas brilhando tão perto, como se tivessem sido bordadas pela minha avó. “Que riqueza, que suntuosidade!”, pensei. Nesse momento, vi Deus em Sua criação. Também poderia tê-Lo visto na beleza do arco-íris, na graça de uma corça no campo, na verdade do amor paterno. Mas, para mim, o contato íntimo com Deus não possui forma. Cerro os olhos, volto-me para dentro, e mergulho num profundo silêncio. O infinito da criação divina me envolve. Somos um.


COMO EU FAÇO MÚSICA

Sempre me perguntam como faço música. Digo-lhes que apenas eu entro na música. É como mergulhar num rio e deixar-se levar pela corrente. A cada momento, o rio entoa uma canção. Então, calo-me e escuto.
A canção nunca se repete. Caminhar pela floresta nos traz uma canção cristalina e murmurante: as folhas sussurram ao vento, os pássaros chilreiam e os esquilos ruminam, os ramos estalam sobe os pés, e meu coração para e ouve tudo isso. Quando nos deixamos levar pela corrente, a música está dentro e fora de nós, e ainda são a mesma. Enquanto puder ouvir o momento, a música sempre estará comigo.


RYAN WHITE

Ryan White, símbolo da justiça
Ou filho da inocência, mensageiro do amor,
Onde estás agora, para onde foste?

Ryan White, sinto saudades dos dias de sol
Quando brincávamos despreocupados

Sinto saudades, Ryan White
Saudades de teu sorriso inocente e contagiante
Saudades de tua aura, saudades da tua luz   

Ryan White, símbolo da contradição
Filho da ironia, ou filho da ficção?

Penso em tua vida despedaçada
Em tua luta, em teu esforço

Enquanto as moças dançam ao luar
Em festas regadas a champanhe em longos cruzeiros
Vejo tua forma perdida, tua visão assombrada
Sinto tuas feridas, tuas contusões

Ryan White, símbolo de agonia e dor
Do medo ignorante e ensandecido
Numa sociedade histérica
De ansiedade galopante
E falsa piedade

Sinto saudades, Ryan White
Ensinaste-nos a ficar e lutar
Sobe a chuva, era uma nuvem de alegria
Em cada criança, um brilho de esperança
No fundo de tua imensa tristeza
Estava o sonho de um novo dia.


SOMBRA OCULTA

Mesmo ao percorrer longas distâncias   
Deixei entreaberta a porta da minha alma
Agonizando com o medo mortal
Não ouvi a sua canção
Ao longo das curvas da memória
Carreguei a minha cruz, trespassado de dor

Foi uma louca viagem
De uma angústia gerada pela tristeza
Eu vagava por toda a parte
Encolhia-me diante dos ataques
Procurando o néctar subtraído
No meu coração um reino há muito perdido
Em todos os rostos assombrados
Eu procurava o meu oásis

De certo modo, foi uma loucura  
Uma histeria cruel, uma escura neblina
Que tantas vezes tentei atravessar
Não sabia fugir da sombra que me perseguia
Muitas vezes, em meio à turba barulhenta
No fremir da multidão irrequieta
Procurava os seus rastros
Não queria perdê-lo de vista

Apenas quando rompi os grilhões
Depois que silenciaram os terríveis gritos
Nas profundezas dos mais pesados suspiros
A amargura engendrada por mil mentiras
Súbito, encarei seus olhos de fogo
De repente, encontrei aquilo que buscava
A sombra oculta era minha própria alma.



AS CRIANÇAS DO MUNDO

Precisamos curar as feridas do mundo. Os caos, o desespero, a destruição desmedida de hoje resulta da separação entre os semelhantes e o ambiente em que vivem. Muitas vezes, essa separação começou numa infância emocionalmente infeliz. Crianças que tiveram sua infância roubada. A mente da criança se alimenta do mistério, do encanto e do contentamento. Quero que minha arte ajude a todos a redescobrir a criança que ainda vive neles.


DOIS PÁSSAROS

É difícil dizer o que sinto por você. Nunca ninguém o viu, se quer em fotos. Então, como compreenderão seu mistério? Vamos lhes dar uma pista.
Dois pássaros estão pousados numa árvore. Um bica cerejas, e o outro apenas observa. Dois pássaros voam. Um tem um canto cristalino, e o outro se mantém mudo. Dois pássaros voam em círculos sob o sol. Um refulge suas asas prateadas, e o outro plana com asas invisíveis.
É fácil descobrir qual deles sou eu, mas jamais poderão ver você. A menos que...
A menos que conheçam um amor que não interfere; que assiste a tudo do alto, que respira livre o ar translúcido. Doce pássaro – minha alma -, teu silêncio é precioso. Quando o mundo ouvirá seu canto dentro do meu?
Ah, como esperam por esse dia!


A ÚLTIMA LÁGRIMA 

Suas palavras cortaram o meu coração, e verti lágrimas de dor.
- Saia daqui! – gritei. – Estas são as últimas lágrimas que derramei por você.
Então, você se foi.
Esperei por horas, mas você não voltou. Naquela noite, sozinho, chorei de frustração.
Esperei várias semanas, mais você nada disse. Lembrando se sua voz, chorei de solidão.
Esperei vários meses, mas você se quer me deu sinal de vida. No fundo do coração, chorei de desespero.
Estranho como todas essas lágrimas não conseguiram diluir a minha dor! Então, um pensamento de amor atravessou a minha amargura. Lembrei de você num dia de sol, com um sorriso tão doce quanto o vinho da primavera. Uma lágrima de gratidão escorreu do meu olho e, como um milagre, você voltou. Tocou meu rosto com seus dedos macios, e se aproximou para me beijar.
- Por que voltou? – sussurrei.
- Para secar sua última lágrima – você respondeu. – Esta que guardou para mim.  

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