segunda-feira, 5 de março de 2012

A DANÇA DOS SONHOS POEMAS & REFLEXÕES PARTE VI




ÊXTASE

Nasci para nunca morrer
Viver em alegria e nunca chorar
Dizer a verdade e nunca mentir
Repartir meu amor sem lamentar
Estender meus braços sem medo
Esta é minha dança, este é meu ápice
Não vê que isto não é um segredo?
Por que não vivemos sempre em êxtase?

Êxtase... Êxtase
Por que não
Vivemos sempre em Êxtase?
Sem culpa, sem remorso
Estou aqui para esquecer
As marcas de pecados imaginados
Em cada parente, amigo e companheiro.

Viemos aqui celebrar
Livrarmo-nos do medo
De toda noção, de toda semente
De toda separação, casta ou credo.

Esta alienação, fragmentação, abominação
De separação, exploração, isolamento
Esta crueldade, histeria, total loucura
Esta raiva, ansiedade, tanta tristeza
Ecologia corrompida, terrível destruição
Biologia doente, natureza obstruída
Espécies em extinção, poluição ambiental
Rombos na camada de ozônio, de difícil solução
É não desconhecer a luz que ilumina a minha alma
É o mesmo fogo que brilha em cada pai, filho e mãe interiores
 
Viemos aqui celebrar
Livrarmo-nos do medo
De toda noção, de toda semente
De toda separação, casta ou credo.

Sinta-se livre, deixe-nos voar
No infinito, além do horizonte
Pois nascemos para nunca morrer
Viver em alegria e nunca chorar
Dizer a verdade e nunca mentir
Repartir meu amor sem lamentar
Estender meus braços sem medo.

Esta é minha dança, este é meu ápice
Não vê que isto não é um segredo?
Por que não vivemos sempre em êxtase?

Êxtase... Êxtase
Por que não
Vivemos sempre em Êxtase?


BERLIM 1989

Eles odiavam o Muro, mas o que poderiam fazer? O muro era resistente demais para ser derrubado.
Eles temiam o Muro, mas isso não fazia sentido? Muitos tentaram escalá-lo e foram mortos.
Ninguém confiava no Muro, mas quem confiaria? Seus inimigos não queriam derrubar os tijolos, não importa quanto se arrastassem as negociações de paz.
O Muro riu, soturno:
- Aprendam a lição – gabou-se. – Se quiserem construções duráveis, não usem pedras. O ódio, o medo e a desconfiança são muito mais fortes.
Eles sabiam que o Muro tinha razão e quase desistiram. Só uma coisa os impediu. Lembraram de quem vivia do outro lado. Avós, primas, irmãs, esposas. Rostos amados que eles ansiavam rever.
- O que está acontecendo? – o Muro perguntou, tremendo.
Sem perceber o que faziam, olhavam através do Muro, tentando encontrar seus entes queridos. Silencioso, um a um, o amor agiu de modo invisível.
- Parem! – gritou o Muro. – Estou desmoronando! Porém, era tarde demais. Um milhão de corações se reencontraram. O Muro caiu antes de ser derrubado.


MÃE TERRA

Num dia de inverno, eu estava caminhando pela praia. Ao baixar os olhos, vi uma onda trazer e deixar uma pena de gaivota sobre a areia. Ela estava manchada de óleo. Peguei-a e toquei a escura camada com a ponta dos dedos. Não pude deixar de me perguntar se a gaivota teria sobrevivido. Ainda estaria viva? Certamente que não.
Fiquei triste ao perceber o pouco caso com que cuidamos da nossa casa. Nosso planeta não é apenas uma pedra girando no espaço, mas um ser vivo que nos nutre. Que zela por nós e merece nosso cuidado em troca. Tratam a Mãe Terra como uma casa alugada. Usam e depois a abandonam.  
Porém, não há outro lugar para ir. Espalhamos lixo, guerras e racismo por toda a parte. Temos de começar a limpá-la e, para isso, precisamos primeiro limpar os corações e as mentes, pois envenenam nosso planeta. Quanto antes mudarmos de atitude, mais fácil será amar a Mãe Terra e sentir o amor que nos retribui de graça.


SÁBIA MENINA

Conheço uma menina sábia que não pode andar. Está confinada a uma cadeira de rodas, onde passará o resto da vida, já que os médicos perderam as esperanças de que ela volte a andar.
Quando a conheci, abriu um sorriso que me queimou de tanta felicidade. Como era feliz! Ela não se escondia sob um manto de autopiedade, não esperava ser aceita, nem sentia vergonha. Sentia-se totalmente inocente por não poder andar, como um cãozinho não que sabe se é vira-lata ou se tem pedigree.
Ela não se censurava. Esta era sua sabedoria.
Já vi o mesmo olhar de sabedoria em outras crianças “pobres”, como a sociedade costuma chamá-las, por não terem comida, dinheiro, boas casas, nem saúde. Quando atingem certa idade, muitas percebem as péssimas condições em que vivem. O modo como os adultos as vêem rouba-lhes esta primeira inocência, tão rara e preciosa. Acreditam que devem se sentir constrangidas, por isso ser o “certo”.
Mas esta sábia menina, de apenas quatro anos, superou a piedade e a vergonha, como um pardal que voa despreocupado. Ela segurou meu coração em suas mãos, fazendo-o sentir-se leve como algodão, e eu não consegui nem pensar.
- Que coisa impressionante!
Eu vi a luz do amor! Em sua inocência, as crianças sabem que carregam essa luz. Se deixarmos, elas nos ensinarão a nos enxergar da mesma forma.
O olhar da menina contém o mesmo conhecimento que a natureza põe no coração de cada ser. É o segredo inaudível da vida, que não pode ser traduzido em palavras. Apenas sabemos. Sabemos o que é a paz e o que devemos fazer para não ferir ninguém. Sabemos que até num suspiro há um gesto de gratidão em relação ao Criador. Ela sorri por estar viva, esperando, paciente, que o tempo de ignorância e tristeza passe, como uma miragem.
Cada vez mais vejo este conhecimento nos olhos das crianças, o que me faz acreditar que a sua inocência esteja aumentando. Elas desarmarão os adultos e isto bastará para desarmar o mundo. Elas não vêem por que prejudicar o meio ambiente, então poderemos limpá-lo sem discussão. A menina sábia revelou-me o futuro, ao olhar para mim, cheia de paz e contentamento. Sinto-me feliz em confiar mais nela do que nos especialistas. Como a luz do amor dissipa a culpa e a vergonha, sua profecia se cumprirá.


EU VOCÊ NÓS

Pedi-lhe que fizesse uma coisa. Você se negou. Conversamos e concordamos que eu poderia ajudá-la. Disse-lhe que estava errada. Você insistiu estar certa. Chegamos a um meio termo, e certo e errado desapareceram.
Chorei. Você também chorou. Abraçamo-nos e, entre nós, nasceu uma flor de paz.
Como amo este mistério chamado “Nós”! De onde ele vem? Do nada? Refleti sobre ele e percebi: devemos ser os filhos diletos do amor, porque até me aproximar de você, o “Nós” não existe. Chega nas asas da ternura, fala através de nossa compreensão silenciosa. Quando rio sozinho, o amor sorri. Quando eu a perdôo, ele se rejubila.
Então, o “Nós” não é mais uma escolha, não, se você e eu desejarmos crescer juntos. O “Nós” nos une, aumenta nossa força; carrega nosso fardo, quando quase o derrubamos. Na verdade, há muito já teríamos desistido, mas o “Nós” não nos deixa desistir. Ele é sábio demais.
- Olhem em seus corações – ele diz. – O que vocês vêem? Não você e eu, mas apenas “Nós”.


ANJO DE LUZ

É difícil ver anjos, mesmo olhando para imagens deles por muito tempo. Algumas pessoas conseguem vê-los, mesmo sem elas, e contam histórias muito interessantes. Anjos da guarda, por exemplo, são todos femininos, o que não me surpreendeu quando descobri. Um anjo de nascimento, recrutado das hostes mais jovens, cuida de cada bebê que nasce, enquanto outro anjo, mais velho, porém muito simpático, ajuda os moribundos a deixarem o mundo sem dor ou tristeza.
Podemos rezar para os anjos e eles nos ouvirão, mas o melhor modo de chamá-los, me disseram, é rindo. Os anjos atendem à alegria, pois esta é sua essência. Na verdade, quando as mentes estão conturbadas pelo ódio ou a raiva, nenhum anjo poderá atendê-las.
Nem todos têm asas – dizem aqueles que conseguem vê-los -, mas os anjos que as possuem podem abrir as asas douradas e abraçar o mundo. Se pudessem olhar direto para o sol, veriam um belo anjo sentado nele; um anjo mais sereno sorri, olhando-nos da lua.
Os anjos passam a vida – que dura toda a eternidade – em volta do trono do Criador, entoando hinos em Seu louvor. Aqueles que têm ouvidos mais aguçados conseguem ouvi-los. As harmonias do coro angelical são muito complexas, dizem, mas seu ritmo é simples.
- Têm som de marcha – disse um que ouviu.
Por alguma razão, este é o fato mais interessante que descobri até agora.
Algum tempo depois, fiquei cansado de ouvir falar de anjos que eu não via. Quando uma observadora de anjos me ouviu reclamar, ficou chocada:
- Não consegue vê-los? – perguntou. – Mas há um anjo dentro de você. Todos têm um. Posso vê-lo agora, e pensei que também pudesse ver.
- Não - respondi, triste, e perguntei como ele era. – Ele se parece comigo?
- Bem, sim e não... – a observadora de anjos respondeu fazendo tom de mistério. – Tudo depende de como você se vê. Seu anjo é uma faísca do seu coração. É mais ínfimo do que um átomo, mas não é apenas isso. Ao se aproximar, a faísca aumenta. Quanto mais perto, mais ela cresce, até, finalmente, ver o anjo em sua verdadeira forma, numa explosão de luz e, nesse instante, poderá ver a si mesmo também.
Assim, estou o tempo todo à procura do meu anjo. Sento-me, silencioso, e medito. Pouco depois, vejo algo.
- É você, Anjo, segurando uma vela?
Vi um brilho que logo se apagou. Mas foi o bastante para fazer meu coração disparar. Da próxima vez, meu anjo estará segurando uma lanterna, depois uma tocha e, finalmente, acenderá uma fogueira.
Foi o que a observadora de anjos me prometeu e, agora que vi um pouco de sua luz, já sei o suficiente para poder acreditar.

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