segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BIOGRAFIA: ERA DANGEROUS




A década de 1990 estava para começar. “O mundo gosta de construir um astro para depois destruí-lo”, o havia alertado Diana Ross algum tempo atrás. De sua parte, ele estava confiante. “Eles ainda não viram nada”, conta-se que ele teria declarado a David Geffen. “Vou dobrar meu sucesso nos anos 90”. Mas o perigo começava a rondar. 1991 viu seu irmão Jermaine Jackson criticar o caçula abertamente. “Eu poderia ter sido Michael”, ele declarou. “É tudo uma questão de ocasião, de sorte”. Jermaine chegou a lançar um single – “Word to the Badd” [Mensagem para o malvado] – que dava estocadas na mudança de aparência de Michael. Michael ficou furioso e chamou a mãe para se queixar, dizendo a ela para expulsar Jermaine de Hayvenhurst, a casa da família que pertencia quase toda a Michael. Katherine o acalmou, mas Michael raramente visitava a casa. Jermaine, que reclamava que Michael não atendia seus telefonemas, recebeu ordens de se manter afastado. Os dois somente fizeram as pazes anos mais tarde. 












































 Na semana em que “Word to the Badd” foi lançada, a resposta de Michael veio com “Black Or White”, que marcava a sua volta com o lançamento do novo álbum Dangerous. (Muito naturalmente, e ao contrário do disco de Jermaine, o single conseguiu o primeiro lugar em todo o mundo). Dangerous foi lançado pela Epic em 26 de novembro de 1991. Ele foi coproduzido por Jackson em parceria com Teddy Riley e Bill Bottrell, uma dupla que vinha sacudindo e fazendo avançar o novo cenário do “pop/R&B urbano”, ou “swingbeat”. Foi Quincy Jones quem recomendou a Michael os dois talentosos músicos.
Gravado entre junho de 1990 e outubro de 1991, no Ocean Way e Larrabee North Studios, em Los Angeles, Dangerous, em sintonia com a era do CD (em oposição ao LP de vinil), trazia 77 minutos de gravação, apresentando 14 músicas. Depois que o riff de rock e a mensagem antirracista de “Black Or White” tomaram impulso, músicas lançadas em singles ao longo do ano de 1992 incluíam: “Remember The Time”, “In The Closet”, “Who Is It”, “Jam”, “Heal The World” e “Give In To Me”. O álbum – duplo em vinil – chegou instantaneamente ao primeiro lugar da Billboard e lá permaneceu por quatro semanas. No Reino Unido, bateu Achtung Baby, do U2, ficando em primeiro. Desde então, vendeu 32 milhões de cópias em todo o mundo, 7 milhões só nos EUA, e foi aclamado “o álbum mais bem-sucedido de New Jack Swing de todos os tempos”. A ilustração da capa, de Mark Ryden, era uma imagem neopsicodélica de fazer saltar os olhos. Apesar de só ter recebido um Grammy (por melhor engenharia de som), suas vendas em mercados emergentes, como na Ásia e América do Sul, foram ainda mas rápidas do que com Bad. O título de “Lenda do Grammy” conferido a Michael em 1993 fez com que ele voltasse ao topo das paradas. Sua irmã Janet foi quem lhe entregou o prêmio.
Logo ficou clara a grande expectativa em torno do novo disco. No aeroporto internacional de Los Angeles, 300 mil cópias de Dangerous foram roubadas por um grupo de ladrões armados a apenas alguns dias do lançamento oficial. Tudo sinalizava para novos rumos em todos os sentidos. Em março de 1991, o cantor assinou um novo contrato com a Sony Music, que disseram ser de “15 anos e seis álbuns”. Rumores falavam em cifras altíssimas, de um bilhão de dólares indo parar no bolso de Jackson. Pode ter sido exagero, mas parece que, de fato, ele ganhou na época a maior taxa de direitos autorais na história do setor. Em 2006, um cálculo concluía que ele havia faturado 175 milhões de dólares apenas com as vendas de Dangerous.
Jackson se apresentou no show do intervalo do jogo do 27º Superbowl (final do campeonato de futebol americano) em 1993, no Rose Bowl, em Pasadena, reunindo a maior audiência do evento: incríveis 133 milhões e 400 mil pessoas. Com uma promoção tão colossal, sem falar da turnê mundial de Dangerous (que ficou marcado como “o show mais espetacular e mais tecnologicamente avançado que o mundo já havia visto”), não é de admirar que Dangerous tenha recebido 7 discos de platina. “Black Or White” foi seu single de maior sucesso desde “Billie Jean”, e Jackson se tornou o primeiro astro a galgar o primeiro lugar por três décadas consecutivas, em 1970, 1980 e 1990.
Desta vez, o grande astro da guitarra escolhido foi Slash, do Guns’N’Roses. O videoclipe, lançado junto com o single, foi mais uma vez outro grande acontecimento, tendo custado astronômicos sete milhões de dólares. John Landis, que havia dirigido Thriller, foi novamente chamado. Ele e Jackson tiveram muitos desentendimentos criativos. O tema da música e, portanto, do vídeo, era bem claro: estimular a harmonia e a integração social. Entre as faces que se mesclavam no vídeo, um balinês, um sudanês e um índio americano. O resultado foi incrível, com uma pantera se metamorfoseando (com o auxílio do tecnológico CGI) em Michael. Tais efeitos computacionais foram uma novidade surpreendente para a época e 550 milhões de pessoas os assistiram.
Jackson parecia possuído, usando movimentos bastante sensuais e até violentos em sua gesticulação. Na verdade, depois de uma reunião com a Fox, cenas suas quebrando janelas de carros e vitrines exigiram um pedido público de desculpas de Jackson. “Fico chateado de saber que ‘Black Or White’ pode induzir alguma criança ou adulto a manifestar comportamentos agressivo, seja sexual ou violento”, ele escreveu. “Sempre tentei ser um bom exemplo e por isso fiz mudanças para evitar qualquer dor ou mágoa que o segmento final de ‘Black Or White’ possa ter causado às crianças, seus pais, ou outros espectadores.” Como era uma história de Michael Jackson, a imprensa manteve a controvérsia pelo tempo que pôde. “Ele pirou de vez”, alardeou um jornal. Mesmo assim, o disco vendeu bastante e seu apelo por unidade ganhou repercussão.
Em outubro de 1991, Michael foi o anfitrião do oitavo casamento de Elizabeth Taylor, desta vez com Larry Fortensky, em Neverland. Levou-a até o altar e ficou feliz em pagar a conta de um milhão e meio de dólares. Entre os 170 convidados, estavam Ronald Reagan, Gerald Ford e Gregory Peck. O presente que Taylor lhe deu em agradecimento foi um raro pássaro albino.
Enquanto isso, o trabalho de promoção de Dangerous continuava. Os vídeos nunca foram tão épicos, com coreografias e visuais de fazer cair o queixo. “Remember The Time” (dedicado a Diana Ross) foi rodado em um antigo palácio egípcio, com o fã de longa data de Jackson, o ator cômico Eddie Murphy, como o faraó, e a ex-supermodel Iman, como a rainha que é seduzida pelo personagem de Jackson. John Singleton, do famoso Boys N The Hood, foi o diretor. “In The Closet”, por sua vez, era coestrelado por outra supermodelo, Naomi Campbell, como a garota de Michael. Dirigido pelo fotógrafo Herb Ritts, mostrava a sutileza e sensualidade que faltavam em vídeos mais ostentosos. Era genuinamente sexy.
“Jam”, dirigido por David Kellog, Michael joga basquete com o ícone Michael Jordan e o ensina a dançar. Os dois se mostravam sinceramente contentes trocando lições de suas especialidades. Um videoclipe para “Dangerous” foi filmado pelo legendário David Lynch, mas hoje virou peça exclusiva, uma verdadeira raridade disputada por colecionadores. David Fincher, que ganhou fama com Clube da Luta e O Curioso Caso de Benjamin Button, fez o clipe para “Who Is It”. Jackson só queria trabalhar com quem fosse o melhor, e normalmente conseguia.
A turnê de Dangerous também foi patrocinada pela Pepsi, que pagou a Michael cerca de 20 milhões de dólares. Houve atrasos e cancelamentos, mas a intenção era que durasse de junho de 1992 a novembro de 1993, com um público de 3,5 milhões de fãs. Michael teve problemas nas cordas vocais, e a turnê teve que ser interrompida e retomada uma ou duas vezes. Dessa vez incluíram a África, onde Michael não pisava desde a adolescência. Com outro exemplo de aguda visão de negócios, a equipe de Jackson também vendeu os direitos de filmagem da turnê por 21 milhões de dólares. Sim, esse foi mais um sucesso retumbante. Um concerto em Bucareste foi filmado e apresentado na HBO em outubro de 1992, atraindo uma audiência gigantesca. A equipe da turnê tinha nada menos do que 235 pessoas, viajando em 13 ônibus personalizados. Os lucros, porém, foram destinados à Fundação Heal The World [Cure o Mundo] – que enviou 43 toneladas de equipamento médico a Sarajevo, destruída pela guerra – e a outras instituições de caridade.
Dangerous atingiu o custo recorde de 12 milhões de dólares em produção. Teddy Riley declarou: “Dou graças a Deus por ter conhecido Michael Jackson. Ele me ajudou muito. Essas canções de Dangerous marcaram para sempre a minha carreira. Aconteça o que acontecer, eu sempre vou levar esse trunfo comigo”. Bill Bottrell revelou o modo nada ortodoxo de trabalho: “Ele cantarola as coisas”, disse. “Sabe transmitir o que quer com a voz como ninguém. Não só as letras, mas ele consegue transmitir o que sente até para uma bateria eletrônica ou a melodia de um sintetizador.”
As reações foram, como era típico com Jackson, as mais diversas. A direção experimental e impressionante variedade passou despercebida por muitos. A crítica em Q, por Mat Snow, foi mais vibrante, precisa e positiva, dizendo: “Com tanto simbolismo sob a manga, que daria assunto para um simpósio avançado de psiquiatras pops, Dangerous engloba todo um leque do que se espera de Michael Jackson: agressão e sentimentalismo, paranóia e otimismo cor-de-rosa, religiosidade e megalomania, inovação e precaução, o sublime e o ridículo. Acima de tudo, no entanto, oferece uma música dançante em um grau alarmantemente intenso”. Depois de observar a confirmação do embalo e do ritmo sobre “os altos e baixos que dramatizam o pop tradicional” nas seis faixas de Teddy Riley na abertura, e de definir os vocais de Jackson como “suspiros, gritinhos e tremores orgásmicos como James Brown”, a matéria enquadra “Heal The World” como uma “overdose de insulina que faz a banda New Seekers soar como o NWA”. Conclui dizendo: “Ótimo material! Tomara que um dia o cantor encontre o amor verdadeiro e a paz interior. Que grande astro!”
Michael não usou de modéstia para falar do álbum. “Quis fazer um álbum que fosse como a Suíte Quebra-Nozes de Tchaikowsky – declarou com magnificiência – de forma que daqui a mil anos as pessoas ainda o ouvissem. Algo que vivesse para sempre. Gostaria de ver crianças, adolescentes e pais, e raças de todo o mundo, centenas e centenas de anos lá na frente, ainda desfrutando das canções do disco e tentando compreendê-lo. Meu sonho é ser eterno.”

As reações foram, como era típico com Jackson, as mais diversas. A direção experimental e impressionante variedade passou despercebida por muitos. A crítica em Q, por Mat Snow, foi mais vibrante, precisa e positiva, dizendo: “Com tanto simbolismo sob a manga, que daria assunto para um simpósio avançado de psiquiatras pops, Dangerous engloba todo um leque do que se espera de Michael Jackson: agressão e sentimentalismo, paranóia e otimismo cor-de-rosa, religiosidade e megalomania, inovação e precaução, o sublime e o ridículo. Acima de tudo, no entanto, oferece uma música dançante em um grau alarmantemente intenso”. Depois de observar a confirmação do embalo e do ritmo sobre “os altos e baixos que dramatizam o pop tradicional” nas seis faixas de Teddy Riley na abertura, e de definir os vocais de Jackson como “suspiros, gritinhos e tremores orgásmicos como James Brown”, a matéria enquadra “Heal The World” como uma “overdose de insulina que faz a banda New Seekers soar como o NWA”. Conclui dizendo: “Ótimo material! Tomara que um dia o cantor encontre o amor verdadeiro e a paz interior. Que grande astro!”
Michael não usou de modéstia para falar do álbum. “Quis fazer um álbum que fosse como a Suíte Quebra-Nozes de Tchaikowsky – declarou com magnificiência – de forma que daqui a mil anos as pessoas ainda o ouvissem. Algo que vivesse para sempre. Gostaria de ver crianças, adolescentes e pais, e raças de todo o mundo, centenas e centenas de anos lá na frente, ainda desfrutando das canções do disco e tentando compreendê-lo. Meu sonho é ser eterno.”

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