terça-feira, 31 de janeiro de 2012

BIOGRAFIA: MORTE


Na quinta-feira, 25 de junho de 2009, Michael Jackson faleceu depois de sofrer um ataque cardíaco na casa alugada onde morava, em Holmby Hills, longe do Sunset Boulevard, em Los Angeles. 

Conta-se que ele teve uma parada cardio-respiratória depois de injeções de Propofol, um poderoso anestésico. Telefonaram para o serviço de emergência por volta de 12h26, horário local. Os paramédicos tentaram desesperadamente reanimá-lo, mas não obtiveram sucesso. Ele foi levado de ambulância para o Centro Médico da UCLA, que ficava próximo, onde novas tentativas para ressucitá-lo foram realizadas. Diz-se que um grupo de cerca de dez pessoas gritava: "Vocês têm de salvá-lo!" A mãe, vários membros da família e Elizabeth Taylor correram para o hospital. Fâs desconsolados logo começaram a se aglomerar em volta de sua casa. Enquanto as agências de notícias hesitavam em aceitar os rumores que se espalhavam como fogo em palha seca, o Coronel Fred Corral, do Condado de Los Angeles, confirmou que Jackson havia morrido de parada cardíaca às 14h26.

Enquanto todo o planeta lamentava ou estava pasmo, o astro era homenageado mundo afora. Os  canais de notícias e a imprensa mal trataram de outro assunto. Como dizem, foi um bom dia para sepultar (outras) más notícias. "O dia em que a música morreu", soluçou um fã para a câmera. Na morte, como na vida, a cobertura variava entre celebração (vídeos e canções eram colocados no ar a todo instante) e mórbida dissecação. Todos os noticiários exploravam um determinado aspecto do fato. A especulação pegou fogo. Qual foi o papel do médico particular? Que medicamentos o astro vinha tomando? A morte poderia ter sido evitada? Quando a família Jackson pediu uma segunda autópsia, os adeptos da teoria da conspiração tiveram um prato cheio. Algumas más línguas chegaram a dizer que a morte havia sido forjada para impulsionar a carreira do astro, ou como um meio de não cumprir os compromissos já marcados.

Porém, a triste verdade acabou sendo aceita. O Rei do Pop estava morto. E, num clima de quase histeria, os críticos se enfileiraram para proclamar sua genialidade, para elogiar, como afirmou a revista Time, "a forma como ele mesclava música branca e negra". Sua "delicadeza" era sempre citada.
"É uma perda muito trágica e um dia terrível", disse Beyoncé. "Michael Jackson causou um impacto muito maior do que qualquer outro astro na história da música. Era mágico. Era o que todos nós lutamos muito para ser. Sempre será o Rei do Pop". Cher declarou: "Deus dá certos dons e ele era apenas um menino extraordinário dotado de grande capacidade. Sabia cantar como ninguém". "Estava tão animada para ver sua temporada em Londres", disse Britney Spears. "Eu ia pegar um avião para vê-lo. Ele sempre me inspirou em toda a minha vida e estou arrasada porque ele se foi". Madonna declarou: "Não consigo parar de chorar por causa dessa notícia triste. O mundo perdeu um de seus grandes astros, mas sua música viverá para sempre". "Sempre vou dar valor aos momentos que passei com ele no palco e tudo o que aprendi sobre música com ele", disse Justin Timberlake. 

Palavras não faltaram à mídia, que continuou a apresentar matérias sensacionalistas sobre abuso de analgésicos, dívidas e outros problemas. Quando se soube que o testamento de Michael deixava seus bens para sua mãe e para os filhos dele, e pedia que Katherine Jackson (mas não o seu pai) ficasse com a guarda das crianças, tendo como segunda opção Diana Ross, circularam histórias sobre a reação de Debbie Rowe. Levantaram-se dúvidas quanto a Jackson ser o verdadeiro pai das crianças. Depois disseram que Michael seria enterrado em Neverland, antes de admitir que as leis do Estado da Califórnia proibiam isso. Os promotores que perderam dinheiro por sua morte não se queixaram, e filmagens de seus últimos ensaios no Staple Center de Los Angeles já estavam sendo divulgadas na rede.
Há gravações guardadas nos cofres. Alguns dizem que cerca de 200 músicas são inéditas, apesar de a maioria poder ser de músicas infantis. Também se fala de material inacabado, trabalhos de Jackson com nomes contemporâneos do hip hop e R&B, como will.i.am, Akon e Ne-Yo. Em 2007, Jackson disse à revista Ebony: "Estou escrevendo muita coisa agora. Vou para o estúdio todos os dias". Kanye West, T-Pain, Swiss Beatz e Sean Garrett, todos confirmaram que estiveram com Michael para discutir um trabalho conjunto. 50 Cent e Chris Brown conversaram com ele pelo telefone sobre possíveis projetos. Depois de trabalhar em uma remixagem de "Wanna Be Startin' Somethin'", em 2008, Akon disse: "Ele é um gênio. Aquela aura... É incrível. Logo vamos sacudir o mundo, cara! Alguns artistas pensam no local, alguns pensam no nacional, eu estava pensando no internacional. Ele pensa em planetas. É algo de outro nível". will.i.am rasgou-se em elogios: "Sou fã desse cara. É o sujeito mais esperto que eu já conheci. Deus nos dá Michael Jackson, James Brown e Nat King Cole só para trazer mais luz à Terra. Michael tem o maior orgulho de ser negro. Na mídia, como ele é perseguido o tempo todo, já se cansou de dar declarações".

Causando muita emoção, a canção "Hold My Hand" começa "This life don't last forever" [Esta vida não dura para sempre]. E continua: "When it gets dark and when it gets cold/We can just hold each other till we see the sunlight" [Quando escurece e quando fica frio/Podemos simplesmente ficar abraçados até ver a luz do sol].

Funeral

A família Jackson estava em plena evidência no dia da cerimônia fúnebre de Michael Jackson, apesar de estarem usando óculos escuros e, no caso dos irmãos, uma luva brilhante cada um (em honra à marca registrada dos melhores dias de Michael). Depois de muitos rumores e desmentidos, 7 de julho apresentou a família, impecavelmente unida mais uma vez, começando o dia com um adeus muito íntimo de 40 minutos à sua estrela mais brilhante no Forest Lawn Memorial Park. Mais tarde levaram o caixão dourado de Michael, coberto de rosas vermelhas, num comboio até o Staples Center. Foi lá que Michael estava ensaiando bem pouco tempo antes. Agora ele era o foco de 31,3 milhões de espectadores ao vivo nos Estados Unidos e de um número ainda maior e incontável em todo o mundo, além de 17.500 fãs dentro do local, os quais haviam ganhado ingressos em uma "loteria" pela internet. Mais 50 mil fãs vieram de todas as partes só para ficar do lado de fora, para dizer que estavam presentes.

Parte funeral, parte show de homenagem, parte celebração, parte vigília real, o evento foi o máximo, como gostaríamos que fosse. O caixão de Michael ficou à frente do palco e a família sentada na primeira fila. O Guardian não resistiu em chamar a cerimônia de "seu último show... tão impecável e preciso como seu canto adolescente ou como sua lendária dança dos anos 80". Foi emocionante como só a grande pompa e o melodrama rasgado conseguem ser. As homenagens foram todas cor-de-rosa, as vozes dos cantores embargadas pela emoção, fosse ela genuína ou profissional. Alguém lembrou que Michael havia dito certa vez que esperava que seu funeral fosse o maior show da Terra.

Smokey Robinson leu mensagens de Nelson Mandela e de Diana Ross (Ross, como Elizabeth Taylor e Quincy Jones, preferiu chorar sua dor de forma privada). Foi uma demonstração pública de emoção extravasada, lembrando do grande astro e esquecendo os que o criticaram. A tela ao fundo mostrava fotos e filmagens de Michael se apresentando em vários estágios de sua vida, enquanto Mariah Carey cantou "I'll Be There", Lionel Richie cantou "Jesus Is Love" e Stevie Wonder cantou "Never Dreamed You'd Leave In Summer" [Nunca Sonhei Que Você Fosse Partir No Verão], mudando o final para "Michael, por que você não ficou?". Berry Gordy Jr. proclamou Jackson o maior showman que já existiu, sendo aplaudido de pé. Queen Latifah leu um poema especialmente escrito para a ocasião por Maya Angelou. "Ele jamais partirá de verdade", disse Smokey. Estrelas do passado e do presente do LA Lakers, Magic Johnson e Kobe Bryant, falaram sobre as boas lembranças que tinham do amigo. Jennifer Hudson cantou a música de Michael "Will You Be There?" e John Mayer tocou "Human Nature". As lágrimas rolaram ainda mais soltas quando Jermaine Jackson interpretou a música de Charles Chaplin "Smile", que Brooke Shields apresentou como a canção preferida de Michael. Ela falou sobre sua amizade natural e espontânea: "Sim, pode ter parecido estranha vista de fora, mas nós a tornamos divertida e real". Ela enfatizou sua sensibilidade e seu amor pela vida. O reverendo Al Sharpton desencadeou uma tempestade, gritando: "Ele rasgou a cortina da diferença de cor. Nos colocou nas capas de revista e na TV. Ele fez com que amássemos uns aos outros". Atribuiu a vitória do presidente Obama e muitas outras coisas a Michael. "Não se trata das dificuldades que ele enfrentou - ele declarou - incentivando a América a não pensar nos escândalos enfrentados nos últimos anos. Trata-se da mensagem que ele deixou". Numa espécie de clímax, olhou para os filhos de Michael e disse: "Não havia nada de errado com seu papai. O que foi errado foi o que o seu papai teve de enfrentar". E lá estavam os três filhos de Michael: visíveis, sem véus, lindos.

Houve mais. Usher cantou "Gone Too Soon" [Partiu Cedo Demais], chorando ao tocar o caixão. O filho e a filha do defensor dos direitos civis Martin Luther King fizeram discursos empolgantes. O garoto galês de doze anos, Shaheen Jafargholi, descoberto em um show de talentos da TV britânica, cantou "Who's Lovin' You?". "Quero agradecer a ele por ter me abençoado e a todas as pessoas com sua música maravilhosa", disse Shaheen. Parecia que o final seria a apresentação coletiva de "We Are The World" e "Heal The World", como estava programado para os shown de This Is It, com a família e os amigos se juntando ao elenco no palco. No entanto, mesmo depois disso houve mais lances cheios de emoção. Marlon Jackson disse: "Talvez agora finalmente deixem você em paz, Michael". Depois, como que para silenciar os críticos de Jackson, seus filhos foram levados para perto do microfone. "Fale alto, querida", disse Janet, e uma Paris de 11 anos fez sua primeira apresentação pública, dirigindo-se ao mundo que a observava hipnotizado. "Desde que eu nasci - ela começou, interrompendo-se para conter o pranto - papai foi o melhor pai que se pode imaginar, e eu só queria dizer que o amo muito". Com sinceridade, quase insuportavelmente tocante a ponto de desarmar qualquer incrédulo, superou o desempenho de Elton John cantando "Candle In The Wind" no funeral da princesa Diana, como um momento icônico naquela área indefinível e pós-moderna que vai além do glamour, da tragédia, da ilusão e do real.

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