terça-feira, 3 de janeiro de 2012

BIOGRAFIA: THE JACKSON 5

O Jackson Five tornou-se o Jackson 5, ensaiando intensamente enquanto o departamento de imprensa cuidava da campanha de divulgação (por vezes reduzindo a idade de Michael de onze para oito anos), além de espalhar a história de que Diana Ross os havia descoberto. Havia trabalho 24 horas por dia, ensaio após ensaio. Som e canções aperfeiçoadas continuamente. A imagem, o estilo e as roupas aprimorados. A Motown encarregou sua própria equipe – A Corporação – de deixar aqueles meninos aparelhados e preparados para o estrelato. “Quando relembro a minha infância” – Michael deixaria registrado anos mais tarde – “ela não tem nada de uma paisagem idílica de memórias”. 

Diana Ross os apresentou formalmente a um público de 350 convidados em 11 de agosto de 1969, no Daisy Club de Beverly Hills. As aparições na televisão se seguiram, e então, em 7 de outubro, saiu o single de estréia, “I Want You Back”. Em janeiro de 1970 eles já figuravam no topo das paradas. O grupo iniciou a nova década como o número um da América, com seu LP de estréia Diana Ross Presents The Jackson 5, que vendeu mais de um milhão de cópias. A história de Michael Jackson havia de fato começado. E começou bem. 

O selo Tamla Motown de Berry Gordy, já era sinônimo de sucesso. A Motown foi pioneira em divulgar e popularizar o trabalho de artistas afro-americanos, estimulando a integração racial graças à capacidade alquímica de dar um especial tratamento a canções pop, criando uma inconfundível marca em discos de soul e de mais estilos de black music de seu tempo, que se tornaram verdadeiras referências para as décadas seguintes. A Motown projetou a música negra para fora de gueto. Entre seus grandes astros estavam Smokey Robinson, Marvin Gaye, Stevie Wonder, The Four Tops, The Temptations, Diana Ross & The Supremes.
O empresário Berry Gordy não só levou Joe Jackson e os meninos para a Califórnia – onde estavam concentrados seus principais interesses comerciais na época – mas hospedou Joe, Jermaine, Tito e Jackie em sua própria casa. Os mais novos, Michael e Marlon, ficaram hospedados com Diana Ross. Michael e Diana se tornaram confidentes e Michael certa vez revelou que compartilhava seus “segredos mais profundos e sombrios” com ela. Gordy iniciou com Diana um verdadeiro trabalho de relações públicas para apresentar o grupo ao grande público. Foi assim que o Jackson 5 foi abençoado pela mais alta hierarquia da Motown. 

Os lucros começaram a aparecer quando “I Want You Back” chegou ao topo das paradas americanas do início dos anos 1970. No início da década, o Jackson 5 alcançou por quatro vezes o primeiro lugar, tornando-se assim o primeiro grupo da história do pop a chegar ao topo da lista com seus quatro primeiros singles. E o primeiro contratado da Motown a conquistar os quatro primeiros lugares em um único ano. Não resta dúvida de que “I Want You Back”, “ABC”, “The Love You Save” e “I’ll Be There” são todas músicas vibrantes e inspiradas. (No Reino Unido, disputando a atenção dos adolescentes com gente do calibre de Donny Osmond e David Cassidy, esses quatro singles chegaram ao segundo, oitavo, sétimo e quarto lugares). O seu LP de estréia alcanço o quinto lugar dos Estados Unidos.
“I Want You Back” marcou para sempre a voz e a presença no repertório mundial. Os meninos do Jackson 5 trocavam de lugar, faziam chamadas e respostas com um ritmo vibrante e irresistível, mais era Michael, à frente do grupo no palco e nas telas, quem roubava o show. O momento em que o garotinho soltava sua voz em “Oooh Baby Give Me One More Chance” anunciava um cantor do mesmo calibre vocal de qualquer um dos gigantes da Motown. Em abril, a hiperativa e igualmente irresistível “ABC” manteve a tendência. Conseguiu derrubar “Let It Be” dos Beatles do topo da parada. “The Love You Save”, outro exemplo transbordante de alegria de viver, chegou ao topo das paradas em junho, e, em outubro, a balada tocante e pungente “I’ll Be There” seguiu o mesmo caminho. Até hoje, “I’ll Be There” permanece um tesouro vocal e melódico. Aos 12 anos, Michael Jackson havia cantado uma canção que marcaria a história. “Vou lhe contar a mais pura verdade” – Michael certa vez admitiu – “eu não fazia idéia do que ocorria naqueles primeiros tempos. Eu simplesmente ia lá e fazia. Jamais soube como estava cantando. Eu não controlava aquilo. Era algo que simplesmente acontecia”. Era inato. 

O Jackson 5 foi taxado de “soul chiclete”. A influência do pop era imensa. O escritor David Ritz chamou aqueles singles de”momento de beleza incandescente – jovem e selvagemente otimista. Eles nos deixam felizes”. A jacksonmania tomou o Estados Unidos de costa a costa. Michael ficava mais feliz quando a mãe e as irmãs conseguiam ficar junto ao resto da família na Califórnia. Com o sucesso assegurado, a família voltou se reunir, mudando-se para uma grande mansão em Los Angeles, chamada Hayvenhurst. 

Talvez seja fácil esquecer agora que Michael Jackson, que chegava ao estrelato no início da década de 1970, tenha sido o primeiro superastro da era pós direitos civis. Em uma América com o potencial e grande desejo de integração, seu sucesso mostrou que era possível fazer a transição pacificamente. Sobre isso, Chaka  Khan afirmou: “Foi uma época especial. Todos tínhamos esperanças e parecíamos nos relacionar como nunca antes. Havia aquele sentimento maravilhoso de estar vivo”. Naturalmente, o jovem Jackson não tinha militância política, mas sua ascendência cultural, como na sua maioria dos acontecimentos da Motown, era percebido e compreendido como um produto de desdobramento benigno. Havia bandas negras na televisão, e para as famílias negras isso fazia mais sentido e era para mais divertido do que os Osmonds ou a Família Partridge. O acadêmico e escritor nascido em Chicago, Bonnie Greer, escreveu: “Eu compreendia visceralmente o modo como eles se vestiam, quais eram as referências em sua música e dança. O Jackson 5 pertencia a mim, a todos nós, eles tinham a mesma origem. A família de Michael não era rica, a não ser por seu prodigioso talento e ética de trabalho. Era possível uma identificação com Michael porque ele era afro-americano, porque era um garoto negro oriundo de uma árida cidade de operários da siderurgia”. 

Apesar de a atração pelos discos do Jackson 5 transcender a cor da pele e a idade, a Motown focava  sua propaganda na geração mais nova. A banda havia relançado a Motown como “O Som da América Jovem”. (Michael ironizou “It Was A Very Good Year” de Frank Sinatra no programa de TV de Diana Ross). 

Uma avalanche de mercadorias ganhou o mercado, de pôsteres adesivos. Uma série de desenhos animados – The Jackson Five – mostrando as “aventuras” da banda era exigindo aos sábados de manhã na televisão.
E os meninos estrelaram seus próprios especiais de TV como The Jackson 5 Show e Goin’ Back to Indiana. A agenda deles ficou lotadíssima, e  Michael, que nem era adolescente ainda, não podia andar na rua sem ser assediado. Quando não estavam viajando, fazendo shows ou aparecendo em algum programa na TV, estavam no estúdio de gravação. No espaço de seis anos, entre 1969 e 1975, conseguiram o absurdo de gravar 14 álbuns. Além disso, em 1972, Michael gravou paralelamente várias atuações solo.
No entanto, nem tudo era a luz e leveza. Michael achava seu novo mundo estranho e confuso. Tinha de fingir estar dormindo quando seus irmãos mais velhos traziam garotas para o quarto de hotel e, apesar da aclamação coletiva, ainda tinha problemas de autoestima. Tendo de enfrentar sua adolescência em público, preocupava-se com a acne e o tamanho de seu nariz. Mais tarde, declarou: “Acho que todo astro infantil sofre durante esse período, porque você deixa de ser a criança bonitinha e encantadora que já foi um dia”. 

A primeira turnê européia dos irmãos vestidos em roupas coloridas se iniciou em outubro de 1972, com uma apresentação no Royal Variety Command Performance, no London Palladium. Também se apresentaram na Wembley Arena (na época Wembley Empire Pool) e encantaram os telespectadores no Top of the Pops da BBC. Tal como todo ansioso turista, encontraram tempo para visitar o Palácio de Buckingham e o número 10 da Downing Street.

Um artigo no jornal The Times, antes de criticar o preço dos ingressos, comentou: “Michael, de 14 anos, tem um comando incrível de seus movimentos... seus pés ligeiros mal parecem tocar o palco”.
O garoto de pés ligeiros não tinha tempo para descanso ou reflexão. A máquina de sucesso continuava funcionando. Eis alguns exemplos: em 1971, “Mama’s Pearl” and “Never Can Say Goodbye”; em 1972, “Looking Thru The Windows” e “Santa Claus Is Coming To Town”; em 1973, “Doctor My Eyes”, “Hallelujah” e “Skywriter”. Além disso, os álbuns solo de Michael, Got To Be There (1972) e Ben (1973), foram suessos tanto musical quanto comercialmente.  

“Got To Be There”, um salmo cantado por um anjo enternecido, foi um single solo de estréia de Michael no segundo semestre de 1971. Chegou ao 1° lugar nos Estados Unidos e ao 5° no Reino Unido. Seu pai e o empresário Berry Gordy reconheciam seu potencial, mas a idéia de se apresentar sem os irmãos ainda era apavorante para Michael. O álbum com o mesmo nome saiu em janeiro de 1972. O Jackson 5 ainda era bastante viável, porém já estava claro para o pessoal dos negócios para que lado sopravam os eventos. Michael já se tornara o maior astro adolescente do mundo. Apesar de serem muito bons, os outros Jackson pareciam, quando comparados ao talento arrasador de Michael, simplesmente mortais. Enquanto a ética da Motown mantinha o grupo coreografado a tratado como um conjunto, era como se Michael estivesse confirmado e restringido quando colocado junto aos irmãos. Ele costumava se libertar dos grilhões, fazendo com que tudo parecesse muito fácil. Ele se esforçou para fazer valer sua opinião. “Michael sempre foi diferente”, disse Berry Gordy. “Tem mais energia do que qualquer um. Fez disso uma ciência.” Mas era Gordy quem estava fazendo ciência com o comércio da época, e dois discos de sucesso pelo preço de um foi o seu jeito de ganhar muito dinheiro. Com outros sucessos como “Rockin’ Robin” e “Ain’t No Sunshine”, foi apenas uma questão de tempo para Michael chegar mais uma vez ao 1° lugar. Este veio com “Ben”, que também era o nome de seu segundo álbum, de 1972. 

Ela era de fato uma canção muito estranha e foi extraordinariamente premonitória. Uma canção de amor de um menino para seu melhor amigo, Ben, um ratinho de estimação que apareceu em um filme arrepiante com o mesmo nome e que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Não vamos nos estender muito nisso: a faixa foi originalmente escrita para Donny Osmond, mais como Donny estava fazendo uma turnê, chamaram Michael. Parecia feita sob medida, pois Michael já vinha colecionando alguns bichinhos de estimação nada comuns na casa da família: pavões, papagaios e até uma jibóia. “As pessoas vêm e me dizem: ‘Como foi que você criou uma canção sobre um ratinho nojento?’ – riu o astro. ‘Como conseguiu deixar tão bonito quando se tratava de um rato idiota?’.” Houve outros discos, mas Michael estava mudado, crescendo à vista de todos. Sua voz de ouro estava se modificando, mas a atração que ele exercia sobreviveu ao que costuma ser o fim da carreira para muitos astros infantis. A puberdade continuava a ser um desafio. Seu peso aumentou e ele ficou ainda mais tímido e inseguro. Sua acne deixava deprimido, e ele adotou uma dieta vegetariana. Essa fase “bagunçou toda a minha personalidade”, suspirou ele tempos depois. As dificuldades dessa época deixaram marcas que o assombravam e que viriam a interferir na percepção de sua própria aparência anos mais tarde.

“Ele sempre estava disposto a fazer o que fosse preciso para deixar uma canção perfeita”, observou o produtor Hal Davis sobre o jovem Jackson. “Era impressionante. Ele ainda era um garotinho.” Sempre destemido no palco, ele aprendeu a se apresentar sem os irmão em volta cantando “Ben” ao vivo na entrega do Oscar. Ainda não queria deixar o Jackson 5. O grupo, no entanto, queria deixar a Motown. Foi um choque. Por trás dos sorrisos, no entanto, havia um crescente azedume entre a família e Berry Gordy. Os Jackson queriam mais controle sobre a criação e deixaram a gravadora em 1975. O único comentário de Michael foi: “Não gostávamos do modo como estávamos sendo travados”. Deve ter sido mais por causa das pressões da promoção, como o excesso de zelo do estúdio com a agenda. Dancing Machine, de 1974, havia mostrado que os irmãos eram capazes de enfrentar o desafio da música disco e que não iriam ficar para trás à medida que esta ia desbancando o soul nas ondas do rádio. Eles haviam conseguido um resultado interessante e inovador para o álbum Get It Together, de 1973, de onde saiu o singles. Mas Gordy ainda insistia no lado mais conservador, não querendo que os Jackson amadurecessem. 

Sua brilhante apresentação de “Dancing Machine” no programa de TV Soul Train fez com que a revista Time declarasse: “Foi um Michael Jackson bem mais funk quem interpretou a música. No meio da canção, seu rosto fica imóvel enquanto ele faz os passos de uma dança impressionante chamada ‘o robô’. Foi sua própria invenção, o produto de longas horas de habilidosa engenharia física, nada emprestado de James Brown”. A canção foi um sucesso e dança do robô virou moda. “E então – concluía a reportagem – Michael Jackson deixou de ser um prodígio para se tornar algo ainda maior”. 

Quando houve a separação, Jermaine permaneceu na Motown, tendo se casado com a filha de Berry Gordy, Hazel, mas Randy dedicou-se à banda em tempo integral. Com um novo contrato assinado com a  CBS (depois Epic) Records e a troca de nome (legalmente necessária) para The Jacksons, o grupo familiar ainda tinha muita energia. Melhorias na imagem e sucessos internacionais continuaram freqüentes, como que para provar a Gordy que eles podiam seguir adiante como unidade sólida sem o apoio dele. Nos anos que se seguiram, eles fizeram a transição de um grupo pop para uma excelente banda ao vivo que conseguia fundir pop, funk, soul, dance e baladas com muita facilidade. Concentraram-se mais em álbuns do que em singles, trabalhando com produtores e letristas de primeira linha, como as estrelas da Filadélfia Kenny Gamble e Leon Huff. O primeiro álbum de 1976, The Jacksons incluía a estréia de Michael como único autor, em “Blues Away”. O swing de “Show You The Way To Go”, composta por Gamble e Huff, garantiu aos irmãos seu primeiro lugar nas paradas britânicas. O segundo álbum Goin Places, também tinha influência da Filadélfia. Em 1978, a Epic permitiu que os próprios Jacksons também atuassem como os produtores do próximo trabalho, e Destiny, que vendeu milhões, justificou a confiança depositada. Sucessos deste álbum, tais como “Blame It On The Boogie” e “Shake Your Body (Down To The Ground)”, com Michael como co-autor das canções, foram um indicativo de quanto o seu ouvido para ritmo e melodia havia se desenvolvido. Ao chegar aos 20, Michael Jackson estava perto de descobrir o som que modificaria o R&B e o pop para sempre. Haveria outros álbuns importantes dos Jackson – Triumph (1980) e Victory (1984, que marcaria as últimas sessões integrais de Michael com a banda) – mas Michael seguiria seu caminho. Parecia que o encanto de permanecer a uma banda havia se quebrado. 

Algo diferente havia sido reservado para ele. A sua estrela estava destinada a brilhar numa tal intensidade que deixaria até mesmo os irmãos, bem como o resto do mundo, boquiabertos. E coisas ainda muito surpreendentes viriam a acontecer.     

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