segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BIOGRAFIA: FALSAS ALEGAÇÕES


Mitos, fofocas e rumores eram fatos corriqueiros na vida diária de Michael. A partir de então, entretanto, foram inflados ao nível do escândalo e choque.A opinião pública estava dividida e polarizada. Michael ficou irado com um entrevistador. “Por que simplesmente não diz às pessoas que sou um extraterrestre de Marte?”, ele questionou. “Diga a eles que como galinhas vivas e executo uma dança vodu à meia-noite. Vão acreditar em qualquer coisa que você disser porque você é jornalista. Mas se eu, Michael Jackson, declarasse: ‘Eu sou um extraterrestre de Marte, como galinhas vivas e executo uma dança vodu à meia-noite’, as pessoas diriam: ‘Nossa, o Michael Jackson ficou louco. Está pirado! Não dá para acreditar numa palavra que sai daquela boca!’”.
As alterações em sua aparência fascinaram alguns e deixaram outros apreensivos ou indignados. “Todo mundo em Hollywood faz cirurgia plástica!”, ele protestou. “Não sei por que a imprensa resolveu me atacar. Afinal, é só meu nariz”. Em 1993, a crise apertou. Alegações de abuso de menores o lançaram em um turbilhão de críticas veiculadas pelos meios de comunicação. Um traumático e doloroso constrangimento. Sua imagem foi enxovalhada. A década não seria nada fácil e sua tentetiva de minimizar os danos, como suas curiosas entrevistas na televisão e seu surpreendente casamento, que durou 18 meses, com Lisa Marie Presley, apenas colocou mais fogo na polêmica.
Quando a década de 1990 estava se firmando, ele ainda era considerado superastro o bastante para mais uma admirável nova era. O novo presidente democrata Bill Clinton e a família o convidaram para um dos bailes da posse em Washington, em janeiro de 1993. Diz-se que a filha de Clinton, Chelsea, estava “entusiasmada” para conhecer seu herói pop. O cantor havia dirigido as celebridades no estribilho de We Are The World”. Com o álbum Dangerous provando que ele ainda era uma grande força no mercado, ele parecia estar fazendo a transição de décadas de forma bastante sólida. Mas a década de 1990 viria a ser de desgraça para o Rei do Pop. Ela já fora iniciada com a dependência química de analgésicos consumidos em grande quantidade pelo astro desde que o acidente na filmagem do comercial da Pepsi lhe queimara o cabelo e o couro cabeludo. E 1993 foi um ano particularmente terrível. Em novembro, a Pepsi retirou cerca de 35 milhões de libras de patrocínio por uma turnê que estava sendo planejada e que então foi cancelada, causando a Jackson, segundo ele próprio, “um grande sofrimento no coração”.
Como o apelido de “Wacko Jacko” tinha pegado, ele comentou com tristeza: “Wacko Jacko – de onde veio isso? Eu tenho coração e tenho sentimentos. Fico magoado quando fazem isso comigo. Não é justo. Não façam isso. Não sou ‘doido’”. Em fevereiro daquele ano, em uma rara e aparentemente franca, além de inegavelmente curiosa entrevista na TV com Oprah Winfrey, ele explicou as dificuldades de ser um astro infantil com uma rotina de “trabalho e mais trabalho e nada de diversão”. “Eu sempre chorava de solidão. Não tinha amigos. Meus irmãos eram meus amigos.” Oprah perguntou se ele costumava usar a imaginação como escape nessa época. “Não – ele respondeu – e é por isso que eu acho que busco alguma compensação. Adorava e continuo amando o mundo dos shows, mas há épocas em que você simplesmente quer brincar e se divertir um pouco, e essa parte me deixava bem triste”. Apesar de dizer que ainda estava saindo com a grande amiga Brooke Shields, aproveitou a oportunidade para retaliar aqueles que o acusavam de descolorir a pele numa tentativa “de ficar mais branco”. Tenho um problema de pele que destrói a pigmentação. Será que é tão difícil de compreender que eu não tenho controle sobre isso? Quando alguém inventa histórias de que eu não quero ser quem sou, isso me magoa.” Apesar de tudo, Michael insistiu que era “muito feliz”.
Michael Jackson foi acusado de forma sensacionalista de abusar sexualmente de um menino de 13 anos, Jordan Chandler, com quem ele tinha uma amizade. “Cortaria meus pulsos antes de abusar de uma criança”, ele argumentou. “Jamais poderia fazer uma coisa dessas. Ninguém pode imaginar o quanto esses rumores maldosos me feriram”. Depois de muita publicidade, o caso nunca chegou a ir a julgamento. As partes envolvidas fizeram um acordo extrajudicial, com o devido pagamento de um soma multimilionária, cujo valor exato variava em função de quem contasse a história. A decisão, possivelmente mal orientada, não encerrou a questão: o acordo apenas pôs lenha na fogueira das línguas afiadas e o falatório se ampliou.
Jordan “Jordie” Chandler, nascido em 1980, 22 anos mais novo do que Michael, seu fã desde criancinha, aprendeu os passos e usava a luva. Quando se conheceram, Jackson lhe deu um coffe table book, Dancing The Dream, publicado depois de Moonwalk. Os dois logo ficaram muito amigos. Jordan foi convidado a visitar Neverland com a mãe e a meia-irmã.
Depois que a família de Chandler foi à policia, e os promotores de Santa Bárbara começaram a investigar as atividades de Jackson, as manchetes pegaram fogo: “Será que o Peter Pan é o Flautista de Hamelin disfarçado?”; “Será que ele é Dangerous ou só Off The Wall?”, numa clara alusão ao nome de sua propriedade e ao título de seus álbuns de sucesso. A policia, com mandados de busca, revirou Neverland, para o horror do cantor, de sua privacidade e de seu condomínio Century City. Foram confiscadas caixas e mais caixas de “evidências” – fotografias e fitas de vídeo. O advogado criminal de Jackson, Howard Weitzman, telefonou e ouviu o incrédulo cantor dizer: “Eu adoro crianças. O mundo inteiro sabe disso. Como podem fazer uma coisa dessa comigo?” as primeiras pesquisas na TV mostravam que somente 12% do público acreditava que as acusações eram verdadeiras.
Michael ainda conseguiu fazer um concerto em Bagcoc, mas cancelou o seguinte alegando estar doente. E aumentou seu consumo de analgésicos. Ligou para Elizabeth Taylor, sua figura materna substituta. Ela e o marido pegaram um avião para encontrá-lo em Cingapura. “Esta é a pior coisa que poderia acontecer a um homem como Michael, que adora crianças e jamais magoaria qualquer uma delas”, ela disse aos repórteres. “Acredito que Michael será inocentado.” Ela mencionou a palavra “extorsão”. Michael faria 35 anos no dia seguinte, um aniversário passado em branco. Ele cancelou outros concertos devido a uma suposta “enxaqueca”. Os pais e irmãos foram encontrá-lo em Taiwan. Ele declarou que jamais voltaria a por os pés em Los Angeles.
Num primeiro momento, as celebridades de Hollywood apoiaram o cantor. Advogados caríssimos, no entanto, estavam sendo contratados pelos Chandler. Michael ainda reuniu forças para marchar com soldados russos na Praça Vermelha. “Michael, a Rússia ama você!”, dizia uma faixa. Logo ele fez uma pausa com Liz Taylor e o marido em Genebra. Depois seguiu para Buenos Aires. Enquanto os advogados se digladiavam verbalmente em Los Angeles, Chandler era bombardeado com perguntas por toda parte de psiquiatras e promotores. A equipe de assessores legais de Jackson o aconselhou a voltar a Los Angeles mas, em vez disso, ele passou um tempo em Porto Rico e na cidade do México, com medo de ser preso ao voltar.
Em 8 de novembro de 1993, enquanto quase toda a família Jackson estava no funeral de Samuel Jackson, avô de Michael, a polícia vasculhou Hayvenhurst. Mais uma vez Michael foi levado ao desespero. Ainda conseguiria fazer seu último concerto na Cidade do México, em 12 de novembro, mas depois pegou um avião fretado para a Inglaterra, aterrissando em Luton, em vez de ir a Londres, na esperança de que houvesse menos paparazzi por lá. Resolveu, então, se pronunciar pela primeira vez, distribuindo um comunicado aos meios de comunicação:
“Quando saí para esta turnê – dizia – estava sendo alvo de uma tentativa de extorsão e logo depois fui acusado de conduta torpe e indigna. Fui humilhado, constrangido, magoado e sofri muito. O resultado da pressão dessas falsas alegações, junto com a incrível energia necessária para os shows, causaram tanta perturbação que me deixaram física e emocionalmente exausto. E fui ficando cada vez mais dependente de analgésicos para enfrentar a turnê. Percebi, então, que, para recuperar minha saúde, é melhor não completar a turnê, e tenho de cancelar os shows que ainda faltam. Sei que posso superar o problema e que vou sair mais forte desta experiência.”
Um publicitário confirmou que o restante da turnê estava cancelada e que a dependência de Michael por analgésicos começara em 1984, depois do incidente em que se queimou durante a filmagem do comercial da Pepsi. A Sony declarou seu “apoio incondicional e irredutível”.
Quando finalmente voltou a Los Angeles, voou no jato do sultão do Brunei, um rico fã. Depois de muitas voltas para chegar em Neverland, sentiu um aperto no coração ao ver uma multidão de equipes de telejornalismo, fotógrafos e repórteres. Em 1994, ele foi revistado e fotografado nu pela polícia. Posteriormente, Jackson declarou à imprensa que aquilo tinha sido: “O inferno mais humilhante da minha vida, algo que pessoa alguma deveria sofrer, um pesadelo horrível! Mas se é por isto que tenho de passar para provar minha inocência, minha total inocência, que seja”. E concluiu: “Sempre que teve oportunidade, a mídia dissecou e distorceu os fatos para tirar suas próprias conclusões. Peço a todos vocês que esperem para ouvir a verdade antes de me rotularem ou me condenarem. Não me tratem como criminoso porque sou inocente”.
Depois de muitas idas e vindas, chegou-se ao valor do acordo, que foi assinado em 25 de janeiro. Alguns dizem que atingira a cifra de 20 milhões de dólares, outros afirmam que fora ainda maior. O custo para a imagem de Jackson, entretanto, seu orgulho e autoestima foi algo que não se pode medir. Meses mais tarde, o astro declarou: “Perguntei ao meu advogado se ele podia garantir que a justiça prevaleceria. Ele disse que não se pode garantir o que um juiz ou o júri podem fazer. Então eu disse que tinha de fazer alguma coisa para sair daquele pesadelo. Havia um monte de gente querendo receber cachê para aparecer nesses programas sensacionalistas de TV. É tudo mentira, mentira, mentira. Então eu me reuni com meus consultores e chegamos à decisão unânime de encerrar a questão”. Foi só no mês de setembro seguinte que os promotores chegaram à decisão final de não iniciar uma ação criminal, uma vez que o acusador de Jackson não estava mais disposto nem se sentia capaz de testemunhar.
O advogado de Jackson declarou: “Vai chegar a hora de Michael seguir em frente com sua vida”. E foi isso exatamente o que ele começou a fazer logo no início de maio de 1994, quando se casou com a filha de Elvis Presley. “Estou aprendendo de fato o verdadeiro significado do amor”, ele disse, transparecendo estar feliz.

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